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USP discute desafios em eleição para novo reitor

O novo reitor deve ser escolhido na próxima segunda; apesar de melhoras durante a gestão atual, oposição afirma que a crise financeira está longe de acabar

Por Estadão Conteúdo 23 out 2017, 08h56

Às vésperas de escolher seu próximo reitor, que deve ser eleito na próxima segunda-feira, a Universidade de São Paulo (USP) ainda luta para sair da sua pior crise financeira. O fundo de reserva da instituição representa hoje apenas 5% do valor de dez anos atrás, de acordo com dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). O montante  de 97,5 milhões de reais  é o mais baixo da história da USP. Só a folha de pagamento mensal da universidade é de cerca de 380 milhões de reais, quatro vezes mais do que o valor existente no fundo de reserva.

O dinheiro do fundo  que existe para investimentos e despesas emergenciais  minguou nos últimos anos porque teve de ser usado inclusive para pagar professores e funcionários. O quadro de pessoal passou a aumentar ano a ano em 2009, fazendo com que a universidade chegasse a 2014 com 106% de seu orçamento comprometido com a folha de pagamento.

O atual reitor Marco Antonio Zago passou então a enxugar. Parou obras, fechou uma das creches, congelou contratações e lançou um plano de demissão voluntária, mas que também consumiu quase 600 milhões de reais das reservas.

No meio deste ano, o comprometimento do orçamento de cerca de 5 bilhões de reais começou a dar sinais de melhora. Em setembro, 90% desse valor foi usado em pagamento de salários. Apesar de ainda ser um índice alto, o reitor está otimista. A arrecadação do Estado também está aumentando  todo o dinheiro da USP vem de um cota de 5% do ICMS, que foi prejudicado nos últimos anos pela crise econômica do país.

Nos debates da eleição para reitor, no entanto, os candidatos da oposição fazem questão de deixar claro que a crise na universidade está longe de acabar. Já os concorrentes mais ligados à atual gestão defendem que ela salvou a USP do colapso.

Discussões

A disputa pela sucessão está fazendo a universidade discutir os efeitos do aperto financeiro e suas possíveis soluções. Participam efetivamente da eleição cerca de 2.000 pessoas, que formam o colégio eleitoral.

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“O novo reitor tem que ter a coragem de mudar as regras da universidade para que ela seja viável”, diz o diretor da Escola Politécnica (Poli), José Roberto Castilho Piqueira. Ele se refere às parcerias com a iniciativa privada, como cursos pagos oferecidos para empresas, por exemplo, que são discutidos há anos e enfrentam resistência de vários grupos. Apesar da Poli ser uma das unidades que mais usam o modelo, Piqueira diz que há ainda barreiras burocráticas com origem ideológica.

No ápice da crise, Zago procurou ex-alunos da USP  empresários como Rubens Ometto (Cosan) e Pedro Wongtschowski (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial)  para pedir dinheiro. “Todos disseram ‘sim’, mas não concordaram em colocar dinheiro no orçamento da USP porque a deficiência tinha sido gerada por má gestão”, conta o reitor. O grupo decidiu contratar a consultoria Mckinsey para fazer um diagnóstico e apontar soluções. Entre elas, estavam a criação de um conselho consultivo com pessoas de fora da USP e um fundo patrimonial com dinheiro de doações.

O conselho já está funcionando e tem membros como a ex-diretora para educação no Banco Mundial e professora da Fundação Getúlio Vargas, Claudia Costin, e o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), José Goldemberg. O fundo ainda está em estudo.

Outra discussão é a necessidade do aumento da assistência aos estudantes de baixa renda diante da aprovação do novo sistema de reserva de vagas. O modelo prevê que, em 2020, 50% dos alunos da USP precisarão ter estudado em escolas públicas. “A sociedade precisa ajudar nessa sustentabilidade estudantil. Nosso grande objetivo atual é buscar fontes alternativas de financiamento”, diz o diretor da Faculdade de Medicina, José Otávio Auler Junior. O reitor acredita que essa obrigação com os cotistas, que inclui pagamento de bolsas, alimentação e moradia, é do governo.

Atualmente, a USP gasta cerca de 200 milhões de reais anuais com auxílio para estudantes. E há reclamações constantes dos alunos, principalmente dos que moram no conjunto residencial da universidade, o Crusp. Eles denunciam falta de manutenção dos prédios  o que teria ocasionado um incêndio este mês em um dos apartamentos  e reclamam ainda da falta de internet nas unidades.

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A reitoria também decidiu fechar, no começo deste ano, uma das duas creches da Cidade Universitária. As crianças foram transferidas para a unidade que ainda está funcionando e novas vagas não foram abertas em 2017. As creches são usadas principalmente por estudantes de baixa renda que têm filhos.

O aluno de mestrado João Victor de Oliveira, de 31 anos, tenta uma vaga para o filho de 1 ano desde julho. “A creche contribuiria muito para eu poder estudar em período integral.” Zago argumenta que, com a crise financeira, é preciso priorizar atividades de ensino e pesquisa. “Isso é com o (João) Doria, não é pra mim”, diz ele, sobre as creches.

Pesquisa

Outro reflexo da crise financeira está nos laboratórios da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. A diretora da unidade, Primavera Borelli, afirma que a saída de funcionários que aderiram ao plano de demissão voluntária está prejudicando as atividades de pesquisa. “Temos equipamentos em que apenas um técnico muito especializado sabe mexer. Se ele sai, preciso de pelo menos seis meses para treinar um outro.”

Fora isso, como não se pode contratar novos funcionários, há acúmulo de trabalho. Segundo Primavera, os técnicos que sobraram estão sendo compartilhados por dois ou três laboratórios. “A questão financeira tem que ser equacionada, mas isso não pode significar o desmonte da USP”, diz.

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