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‘Segunda Chamada’ e a vez das séries que entram na sala de aula

Um magnífico atalho para ampliar a relevância do ensino em qualquer sociedade

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 13 set 2019, 10h34 - Publicado em 13 set 2019, 06h30

Quando o enérgico professor John Keating se postou em cima de uma carteira na conservadora Academia Welton e instou uma classe desinteressada a responder à questão que não quer calar — “O que eu, mestre, estou fazendo aqui?” —, a dramaturgia abraçou de modo certeiro a educação. Em 1989, o tocante Sociedade dos Poetas Mortos, estrelado por Robin Williams, levou um punhado de prêmios, entre os quais o Oscar de melhor roteiro. Houve outros antes dele, como o delicado Ao Mestre com Carinho, que faturou a estatueta de melhor filme em 1967 com um brilhante Sidney Poitier chacoalhando uma turma sem rumo. Agora, é chegada a vez de as séries de TV mostrarem os labirintos escolares à sua maneira. E elas estão registrando elevada audiência mundo afora. Em outubro, o Brasil adentra esse universo com Segunda Chamada, da Globo, a estreia do país nessas produções que dão às complexidades do ensino o papel principal.

A nova série sorve inspiração das muito bem-sucedidas Rita, a trama dinamarquesa em torno de uma professora desbocada que escandaliza pais e conquista alunos, e Merlí, que em suas três temporadas mostrou como um mestre disposto a fazer tremer velhos pilares escolares sacode também a vida dos estudantes. Ambas se encontram na Netflix — Merlí, aliás, era originalmente exibida na catalã TV3, depois foi catapultada para a plataforma de alcance planetário e virou fenômeno. “Meu desafio era tratar de jovens e filosofia na escola, um coquetel explosivo que nem a TV nem as grandes plataformas haviam comprado”, conta a VEJA o diretor Hector Lozano, criador de Merlí, que pode, sim, pecar por certos estereótipos, mas certamente tornou a sala de aula um local ao mesmo tempo divertido e dramático.

Em Segunda Chamada, o alvo é o ensino de jovens e adultos que vão sendo defenestrados dos estudos pela combinação de falta de incentivo com falta de oportunidades. No horário pós-novela das 9, estarão carteira com carteira uma ex-presidiária, o irmão de um chefe do tráfico, uma senhora de 70 anos — todos pilotados por um quadro de professores de colégio público que tem como destaque a personagem vivida por Debora Bloch. O interesse da Globo por uma série sobre educação — na novela Malhação ela é apenas cenário — vem na esteira dos sucessos de fora. “Escolhemos mirar essas pessoas que são dadas como casos perdidos justamente porque elas quase nunca têm visibilidade”, diz a roteirista Carla Faour, que escreveu a primeira temporada de dez episódios (a segunda já está nos planos) com Julia Spadaccini, dobradinha reeditada da série Tapas e Beijos.

Em outros tempos, dificilmente se ousaria apostar em enredo tão árido (até mesmo para os círculos da educação), mas o mercado vem detectando uma crescente curiosidade pelas coisas da escola, sintoma deste século XXI, que demanda cada vez mais habilidades e aprendizado. Um motor decisivo para libertar o ensino dos escaninhos dos especialistas e trazê-lo a mesas mais amplas são as redes sociais, que conectam o tempo todo pais, alunos e escolas. Isso tudo faz o tema circular livremente pela vida cotidiana e interessar ao universo pop. “Tirando a filmografia francesa, o ensino nunca foi tratado na indústria do entretenimento com o afinco de hoje”, ressalta Lozano, de Merlí. Uma contribuição vinda da França é o genial Entre os Muros da Escola, de 2008, que inclusive inspirou a dupla brasileira. “Mantemos uma constante conversa para entender o que as pessoas estão falando, ouvindo, buscando. E educação é uma delas”, diz Silvio de Abreu, diretor de dramaturgia da Globo. Que a maratona à frente da TV sirva também de estímulo para a corrida pelo saber — sem o qual qualquer democracia corre sério riscos.

Publicado em VEJA de 18 de setembro de 2019, edição nº 2652

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