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O ensino integral encolheu, mostra o novo censo escolar

Recuo histórico tem a ver com o declínio do programa Mais Educação, uma bandeira do PT

Por Maria Clara Vieira 18 fev 2017, 07h56

Nos últimos anos, as escolas de ensino integral vinham expandindo puxadas pela ambição de, um dia, serem a realidade em todo o Brasil. Mas o novo Censo Escolar, divulgado na última quinta-feira pelo Ministério da Educação (MEC), mostra que a tendência se reverteu: pela primeira vez em quase uma década o número de alunos matriculados em turno integral encolheu. Isso mesmo: em 2015, representavam 16,7% dos estudantes do ciclo fundamental; hoje são 9%. Trocando em números, o contingente que tinha jornada estendida no colégio despencou de 4,5 para 2,4 milhões – o patamar de quatro anos atrás.

Esse cenário tem relação direta com o congelamento do programa Mais Educação, uma das grandes bandeiras dos governos Lula e Dilma na área. A União canalizava recursos para que as redes estaduais e municipais ampliassem o turno escolar para no mínimo sete horas diárias. No ano de estreia, 2008, 360 000 alunos passaram a frequentar a escola em tempo integral. Em 2014, no auge, o número bateu 8 milhões de estudantes. Mas aí, na esteira das crises econômica e política, veio o declínio. Na gestão Dilma, entre 2015 e 2016, a fonte para o programa foi minguando, até secar de vez.

Quem acompanhou o Mais Educação de perto não se surpreendeu com o fracasso. Primeiro, havia um importante problema de ordem prática. “O dinheiro para a implantação nunca foi incorporado ao orçamento dos estados e municípios, portanto, ficou mais sujeito às circunstâncias. Não virou uma política educacional consolidada”, avalia João Batista de Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto. O outro problema era mais conceitual mesmo: ampliou-se a jornada oferecendo aos alunos atividades opcionais, que, pelo visto, pouco se refletiram no resultado acadêmico.

Um levantamento feito pelo Instituto IDados, com base nos resultados do censo, mostra que as escolas de ensino integral apresentaram desempenho muito semelhante às de turno único na Prova Brasil. “O tempo integral, sozinho, não está associado a melhor desempenho escolar, em nenhum nível de ensino”, conclui Oliveira. Elevar o tempo da criança na escola é a princípio bom: a jornada brasileira gira em torno de 4 a 5 horas, enquanto nos países da OCDE (organização das nações mais desenvolvidas) é quase o dobro. Mas de que adianta esticar as horas no mesmo sistema sem qualidade de sempre?

O Mais Educação foi agora reformulado pelo MEC e ressurge ao menos com um plano do que fazer com o tempo extra: reforçar a carga de português e matemática dando prioridade a alunos com mais dificuldade e a escolas com baixos resultados. Quarenta e seis mil colégios estão incluídos até agora, abrangendo 5,7 milhões de estudantes. Que o próximo censo mostre não só o avanço quantitativo mas traga também algum sinal de que o Brasil está finalmente melhorando o boletim.

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