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Leitura desenvolve fala de crianças, mesmo com baixa escolaridade de pais

Ler para o filho de maneira correta contribui para ampliar seu vocabulário até em famílias que estudaram pouco, mostra estudo pioneiro

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 8 set 2020, 15h51 - Publicado em 7 set 2020, 14h10

Não é de hoje que se conhece os impactos positivos da leitura no desenvolvimento das crianças durante os primeiros anos de vida. O simples hábito de colocar um bebê no colo e narrar a história de um livro é capaz de gerar estímulos neurológicos que exercitam o cérebro, ao mesmo tempo em que a criança se sente protegida e acolhida no contato com o adulto.

Agora, um estudo realizado no Brasil e publicado na revista científica Early Childhood Research Quarterly, nos Estados Unidos, mostrou os efeitos positivos de se incentivar o hábito da leitura em crianças cujos pais têm poucos anos de estudos ou são semianalfabetos.

A pesquisa faz parte de um projeto pioneiro no Brasil, desenvolvido por professores da Universidade de Nova York em parceria com o Instituto Alfa e Beto, em torno do programa batizado de “Universidade do Bebê”. Implantado em 2015, em 22 creches de Boa Vista, Roraima, o programa consiste no treinamento de pais para que eles interajam com seus filhos por meio da leitura de livros emprestados em bibliotecas.

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Durante as nove sessões realizadas ao longo de um ano, os pais eram incentivados a ler as histórias de maneira interativa, interpretando diferentes vozes para cada personagens e a “espichar” a conversa, fazendo comentários sobre os livros em outras situações.

“A fala é muito diferente da leitura. O ato de contar e repetir uma história escrita apresenta para a criança um vocabulário mais amplo e estruturas sintáticas mais estruturada que requerem maior esforço de compreensão por parte da criança”, explica João Batista Araújo e Oliveira, presidente  do Instituto Alfa e Beto e um dos autores do estudo.

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Os pesquisadores aplicaram questionários com diversos tipos de testes nas crianças, entre três e quatro anos de idade, antes e depois do treinamento. Uma das principais medidas avaliou o vocabulário expressivo (as palavras que a criança usa em sua fala) e receptivo (as palavras que ela entende).

O universo pesquisado foi dividido em três grupos de pais: quem tinha filho matriculado na creche e havia passado pelo treinamento; quem tinha filho matriculado na creche e não fazia parte do programa de incentivo à leitura e quem estava na fila de espera por uma vaga para o filho. Os grupos, bastante semelhantes em diversos aspectos sócio-econômicos, foram subdivididos segundo o nível de escolaridade dos pais.

Antes do programa ser implantado, as crianças cujos pais tinham baixa escolaridade receberam nota 6,74 no teste de vocabulário expressivo, contra 8,25 entre os filhos de pais com escolaridade mais alta. Depois de passarem pelo treinamento, porém, a diferença entre os dois grupos caiu consideravelmente: 8,34 contra 8,53. Fenômeno semelhante foi observado no vocabulário receptivo.

“O baixo nível de escolaridade dos pais não significa um impedimento para que eles promovam o desenvolvimento verbal de seus filhos, desde que tenham acesso a livros e técnicas adequadas de leitura interativa. Percebemos que a condição de pobreza e a baixa escolaridade dos pais não são inexoráveis. É possível mudar a condição e o destino das crianças”, diz João Batista.

Implantar  programas de primeira infância é uma das maneiras mais baratas e eficazes de se diminuir as diferenças sociais. Crianças que têm pais leitores e de melhor formação largam na frente porque são naturalmente expostas a um ambiente de maior letramento, com vocabulário mais amplo do que o utilizado em lares de família de baixa renda e de menor escolaridade.

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“O desafio é fazer essas pessoas se tornarem leitores contumazes. É preciso manter a atenção às crianças mais vulneráveis, ampliar o acesso aos livros e continuar apoiando-as para que os ganhos na primeira infância não se percam nos anos seguintes”, explica o autor do estudo.

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