Exercícios de caligrafia foram abandonados pelas escolas
Para educadores, prática é 'mecânica' e não ajuda no aprendizado
Com a chegada da pedagogia moderna há cerca de 30 anos, a filosofia dentro as sala de aula mudou
O caderno de caligrafia parece mesmo ter se tornado coisa do século passado. Há pelo menos duas décadas, são poucos os alunos que se debruçam sob a velha obrigação de treinar exaustivamente a letra cursiva nas folhas pautadas.
Com a chegada da pedagogia moderna, há cerca de 30 anos, em grande parte inspirada no construtivismo, a filosofia dentro das salas de aula mudou. A capacidade do aluno de descobrir seus próprios caminhos para a alfabetização e o treinamento da escrita passou a ganhar espaço. Exercícios considerados mecânicos foram desacreditados e, assim, os cadernos de caligrafia caíram em desuso até quase desaparecer.
“Atualmente, as instituições prezam mais a liberdade de expressão, e essa liberdade também se aplica ao ato de escrever”, afirma Gustavo Vasconcellos, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade. “Em parte, a caligrafia foi abandonada pela grande maioria das escolas porque promove uma escrita padronizada, que já não faz parte da filosofia das escolas”, acrescenta.
Nem todos concordam. Para João Batista Oliveira, educador e presidente do Instituto Alfa e Beto, o abandono dos exercícios de caligrafia é resultado de uma postura equivocada e afeta o aprendizado. “As escolas se preocupam com as chamadas ‘competências superiores’ como se elas pudessem existir sem as ‘inferiores’. Se a criança não sabe escrever rapidamente e de forma legível, não consegue cumprir a tarefa escolar “, argumenta.
Para os especialistas ouvidos por VEJA.com, o treino da caligrafia deve acontecer, mas não pode se restringir à repetição incansável das letras do alfabeto. É preciso simultaneamente explorar a estrutura da escrita, construindo frases, por exemplo, para que o aluno possa se exercitar na sintaxe e na semântica da língua.
“Do ponto de vista da neurociência, quando executamos o traçado das letras e palavras, enviamos informações para o cérebro e contribuímos para a formação de memória”, aponta a pesquisadora Elvira Souza Lima, que defende que o tempo dedicado a tarefas como a cópia de textos e exercícios de caligrafia não deve exceder 15% da carga horária dos jovens estudantes.