Em Dubai, Bolsonaro admite interferência política no Enem
Declaração de presidente confirma existência de filtro ideológico, denunciado por VEJA
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta segunda-feira, durante viagem oficial aos Emirados Árabes Unidos, que o Enem “começa a ter a cara do governo”. A declaração ocorre depois de 37 servidores do Inep, o órgão responsável pelo exame, terem pedido exoneração de seus cargos após denúncias de assédio moral e de interferência política na prova.
“Começam agora a ter a cara do governo as questões da prova do Enem. Ninguém está preocupado com aquelas questões absurdas do passado, de cair um tema de redação que não tinha nada a ver com nada. É realmente algo voltado para o aprendizado”, afirmou Bolsonaro durante fórum de investimentos em Dubai.
Em reportagem exclusiva, a revista VEJA revelou as tentativas do presidente do Inep, Danilo Dupas, de determinar o conteúdo das questões. Um Policial Federal chegou a entrar na “sala segura”, um ambiente restrito aos funcionários que trabalham na elaboração do teste, e fez perguntas que constrangeram os funcionários. O ato foi visto como uma maneira de intimidação por um servidor que presenciou a cena.
Dupas também tentou impor nomes de sua confiança para compor a equipe que elabora a prova. Nenhum deles fazia parte dos quadros do Inep. Diante da reação negativa dos educadores da autarquia, voltou atrás, mas vetou nomes de servidores que não passaram por seu crivo ideológico.
Nas últimas semanas, funcionários do Inep, sob condição de anonimato, afirmaram à reportagem que as pressões deram resultado. “Fizemos uma prova o mais ‘chapa branca’ possível.
Em todas as edições anteriores do Enem, Bolsonaro fez crítica à prova. Na edição de 2020, que ocorreu em meio à pandemia e foi marcada pelo excesso de alunos e confusão em alguns estado, o presidente demonstrou irritação com uma questão que comparava os salários dos jogadores de futebol Marta e Neymar.