Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

A balbúrdia mora no MEC

O ministro da Educação usa o que considera bagunça no câmpus como critério para cortar verbas, cria um rebuliço e dá margem a chacotas

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 3 Maio 2019, 07h00 - Publicado em 3 Maio 2019, 07h00

Muita gente já testemunhou o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disparando sua metralhadora verbal contra as universidades públicas. “São um antro de esquerda, custam caro e nós pagamos a conta”, disse certa vez, quando ainda era o braço-direi­to do ministro Onyx Lorenzoni na Casa Civil. Foi só passar a ser o dono da caneta no MEC para afiar as garras ideológicas e deixar à mostra sua disposição de combater o “marxismo cultural”. Na quinta-feira 25, Weintraub veio com a ideia de dragar verbas dos cursos de filosofia e sociologia (sim, “de esquerda”) e investir firme em “ofícios que gerem renda” (veja o artigo). Cinco dias depois, apareceu com outra bomba. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, anunciou o corte de 30% nas verbas de três universidades cujos indicadores de qualidade, segundo ele, pioraram e que eram exemplo de “balbúrdia”.

(./.)

A fragilidade de sua argumentação entrou para o anedotário do MEC e o fez recuar no mesmo dia — os critérios foram abandonados e os cortes, generalizados. A volta atrás, porém, não significa que Weintraub tenha revisto conceitos. Sua ideia tropeçou em um empecilho conhecido como Lei de Diretrizes e Bases da Educação: a União não pode tosar verbas das instituições sem uma sólida justificativa. E, no caso das universidades de Brasília (UnB), Federal Fluminense (UFF) e Federal da Bahia (UFBA), as três atingidas, não havia nada de objetivo que fundamentasse o castigo financeiro. No lado acadêmico, duas delas (UnB e UFBA) avançaram (veja o quadro). As três constam, inclusive, da lista das cinquenta melhores da América Latina no ranking da revista britânica Times Higher Education. “O MEC dá notas de zero a 5 às universidades, e recebemos a classificação máxima”, diz Antonio Claudio da Nobrega, reitor da UFF.

Pelo ângulo da “balbúrdia”, o critério fica ainda mais difícil de mensurar. Indagado sobre o que entende por balbúrdia, o ministro definiu: “bagunça”, “evento ridículo”. E alongou-se nos exemplos: “Manifestações partidárias, festas inadequadas, gente pelada e presença dos sem-terra no câmpus”. Um integrante do alto escalão do governo diz que as três universidades na mira do MEC têm cada qual um caso de “balbúrdia” para contar. O que mais irritou o ministro, na verdade, foi a ida à UnB do ex-candidato petista à Presidência Fernando Haddad, no dia 25. Ali, ele participou de debate intitulado “O papel da educação na defesa da democracia em tempos de autoritarismo”. Em março, a UFBA sediou o Fórum Mundial Social, que reuniu lideranças negras, indígenas e LGBT. O nó com a UFF vem da campanha: alunos estenderam uma bandeira na fachada com a palavra “antifascista”, em explícito repúdio a Jair Bolsonaro. O recuo do MEC foi relativo. No modelo imaginado para as três universidades, o corte continua previsto para o segundo semestre, e ampliado. O ministro avisou que todas as 68 federais terão o mesmo prejuízo. Só se salvarão da degola se a reforma da Previdência produzir a economia desejada — por ora, 5,8 bilhões de reais do MEC estão congelados. Na quarta-feira 1º, Weintraub reencontrou o tom ideológico no Twitter: “(…) perguntar sobre tolerância ou pluralidade aos reitores (ditos) de esquerda faz tanto sentido quanto pedir sugestões sobre doces a diabéticos”. Quem foi mesmo que falou que livraria o Brasil do “viés ideológico”?

Publicado em VEJA de 8 de maio de 2019, edição nº 2633

Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.