O brasileiro, em especial o brasileiro que trabalha na Faria Lima, deve ter finalmente um dia de paz. Na noite de ontem, o Copom decidiu por unanimidade manter a taxa Selic em 10,50% ao ano. A notícia não é particularmente boa para quem ganha dinheiro com compra e venda de ações, já que juro alto mantém a renda fixa mais atrativa. Ainda assim, trata-se de uma notícia positiva.
O dólar comercial abriu o dia em queda. Por volta das 10h40, a moeda americana caia 0,4%, vendida a 5,418 reais. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, opera em alta. No início do pregão, o Ibov avançava 1%, aos 121,4 mil pontos.
A preocupação recente de investidores era com a possibilidade de a inflação voltar a subir, seja por aumento de gastos do governo, seja por leniência do BC com a inflação. A economia é feita de expectativas mais do que de evidências concretas, não só a Faria Lima. Se o dono do mercado é bombardeado com notícias de que a inflação vai subir, ele pode elevar os preços dos produtos de antemão. E quem trabalha começa a pedir salários mais altos para enfrentar os preços elevados que nem vieram de uma escassez de fato ou aumento de demanda.
Diretores e o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, manifestaram preocupação com essa expectativa de preços mais altos, o que levou o mercado financeiro a prever o fim da queda da Selic, que se confirmou.
Duas coisas ajudam a serenar os ânimos nessa quinta: o fato de que a decisão foi unânime e a leitura, no comunicado, de que a Selic pode até voltar a subir caso as projeções para o IPCA não se acomodem. Vamos entender isso por partes.
Um dos motivos para a desancoragem de expectativas veio justamente da reunião anterior do Copom, qunado houve divergência na decisão. A parte vitoriosa dos diretores, indicados em governos anteriores, votou pelo corte de 0,25 p.p. Os indicados pelo governo atual defendeu a redução de 0,50 p.p. Aí a Faria Lima entendeu que essa divergência significaria, no futuro, um BC mais tolerante com a inflação e começou a projetar isso desde já. A unanimidade da decisão de ontem mostra que não é bem assim. Isso, claro, para muito além do fato que divergências são esperadas em reuniões colegiadas – são extremamemente comuns nas reuniões do Fed, por exemplo.
A segunda coisa é a “ameaça” de alta de juros ao dizer que “o Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”. Isso foi lido pelo mercado financeiro como uma porta aberta a novas altas.
Para selar o dia de paz, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi instigado a comentar a decisão, mas não caiu na casca de banana. Disse que comentaria apenas após ler a ata da reunião, que detalha as razões do Copom para a manutenção dos juros.
E o exterior também traz um respiro. Os EUA voltam do feriado retomando o rali tech enquanto a Europa avança à espera das reuniões de bancos centrais da região. A mais importante é a do BoE, um dia após o Reino Unido anunciar que finalmente sua inflação está de volta a meta de 2% ao ano.
Agenda do dia
8h: BoE divulga decisão de política monetária
8h30: Diretores do BC Otavio Damaso e Renato Dias Gomes proferem palestra
9h30: EUA publicam pedidos de auxílio-desemprego da semana até 15/6
9h45: Neel Kashkari (Fed/Minneapolis) participa de evento
11h: Zona do euro anuncia índice de confiança do consumidor preliminar de maio
12h30: Haddad tem almoço institucional com direção do jornal O Globo
17h: Thomas Barkin (Fed/Richmond) fala em evento
23h15: Mary Daly (Fed/São Francisco) participa de evento
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