Empossado como CEO da Tecnisa em novembro de 2021, o administrador de empresas Fernando Tadeu Perez tem promovido um choque de cultura na incorporadora. Em um momento de reestruturação, Perez anunciou o corte de 30% da força de trabalho da empresa e mudou seu escritório da Avenida Faria Lima para o Jardim das Perdizes, em São Paulo. Agora, depois de seu primeiro trimestre com lucro em um ciclo de seis anos, almeja a criação de um canteiro de obras no estado. “Nós temos uma estrutura para lançar um 1 bilhão de reais em novos empreendimentos por ano”, afirma ele.
De olho na retomada do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Tecnisa diz estar desenvolvendo estudos em busca de oportunidades no segmento popular — hoje, a incorporadora atua nos segmentos médio e alto padrão. O governo federal publicou nesta quarta-feira, 15, as novas regras do Minha Casa, Minha Vida. O programa conta com o retorno da Faixa 1, que agora é voltada para famílias com renda bruta de até 2.640 reais. Há outras duas faixas, sendo a última para famílias com renda de até 8 mil reais. “Esse governo mais populista tem uma preocupação maior com o público de baixa renda. Então, a gente sempre está analisando”, afirma Perez.
A ideia, segundo o executivo, não seria criar uma bandeira nova para o segmento popular — a Cyrela, por exemplo, atua nessa faixa por meio da marca Vivaz. “O nome Tecnisa é muito forte. Não quero precipitar nada, mas se os estudos caminharem nesse sentido, eu imagino que a atuação seja sob o nome de Tecnisa ‘alguma coisa’.”
Para além dos planos em aproveitar a faixa de mercado com o relançamento do programa de moradias do governo federal, a incorporadora diz estar pronta para participar dos novos leilões de valores mobiliários promovidos para obtenção de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepac) promovidos pela prefeitura de São Paulo. A empresa, hoje restrita à capital paulista, também avalia investir em outras localidades. “Com a dificuldade de se fazer negócios, nós começamos a olhar outras cidades, mas ainda no estado de São Paulo“, diz o CEO, anteriormente membro do conselho da companhia. “Cidades como São José dos Campos, Santos e Campinas são regiões muito boas.”
O último lançamento anunciado pela Tecnisa foi o Kalea Jardins, no bairro Jardins, com valor geral de vendas (VGV) avaliado em 380 milhões de reais e previsão para entrega em 2026. A cobertura do edifício foi adquirida por 32 milhões de reais em uma venda realizada integralmente pela internet, com tour virtual tridimensional. Um decorado físico em moldes semelhantes ao criado no ambiente virtual, segundo o executivo, demandaria um aporte de mais de 10 milhões de reais. A aposta em tecnologia por parte das construtoras também se mostrou como uma fuga frente à inflação, que corroeu as margens das companhias do setor. “Todo mundo está sofrendo com as margens. Nós gastávamos mais dinheiro com a mão de obra do que com os insumos. Com a pandemia, isso se inverteu”, lamenta Perez.
Com uma carreira consolidada em empresas como Ford, Volkswagen e Itaú Unibanco, Perez assumiu a difícil missão de suceder o controlador e fundador da Tecnisa, o empresário Joseph Meyer Nigri. Ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Nigri esteve envolvido no episódio em que empresários que apoiavam o presidente sugeriram um “Golpe de Estado” caso Bolsonaro perdesse as eleições. Mais distante do dia a dia da operação da construtora, Nigri continua com voz ativa nas decisões da empresa. Além de presidente do conselho de administração, o empresário participa de comitês para o desenvolvimento de projetos e de inovação. “Ele vem aqui [ao escritório] todas as quartas-feiras e tem nos ajudado muito na área de produtos.”
Mercado
Empresa de capital aberto, a Tecnisa viu seus papéis na bolsa de valores ganharem tração neste ano, apesar de estarem cotadas atualmente em 2,67 reais. Segundo o executivo, o valor de mercado da companhia está “muito descontado”. “De modo geral, é um absurdo como as ações das empresas na bolsa estão descontadas. Só um terreno que nós temos de 60 mil metros quadrados já vale cerca de 1,2 bilhão de reais, enquanto a empresa inteira está valendo 200 milhões de reais na bolsa. É um absurdo”, reclama. “Eu nem gosto de olhar [o valor da ação], porque a gente acaba passando raiva.”