A Rússia planeja cortar sua produção de petróleo em 500 mil barris por dia no mês que vem, seguindo uma ameaça de retaliação contra as sanções ocidentais à energia e elevando drasticamente os preços do petróleo. A decisão russa tende a impactar fortemente os preços do barril e, consequentemente, os preços do combustível aqui no Brasil.
Nesta sexta-feira, 10, o preço do barril do tipo Brent operava em alta de 1,3% a 85,6 dólares. Em janeiro, o preço de referência internacional havia caído 9%, ajudando a aliviar as preocupações inflacionárias. A ameaça russa deve pressionar os preços no Brasil porque a Petrobras utiliza uma política de paridade de preços internacionais, tanto com base no barril de petróleo quanto na cotação do dólar. Segundo a Abicom, associação dos importadores de combustível, a gasolina está 1% acima do preço de paridade. Na segunda-feira, entretanto, a gasolina estava 10% acima.
A alta no preço do barril do petróleo vem em um momento que o governo tem uma questão delicada para resolver sobre a gasolina. Além da discussão sobre a política de preços da Petrobras, que atualmente não conta com apreço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do novo presidente da companhia, Jean Paul Prates, o governo tem até o fim do mês para decidir se continua com a isenção de impostos federais sobre a gasolina.
A medida, tomada as vésperas das eleições pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha validade até 31 de dezembro e foi prorrogada por 60 dias pelo governo Lula. A medida, junto com o teto do ICMS para os combustíveis nos estados, ajudou a segurar o preço da gasolina. No ano passado, o combustível chegou a ser vendido por 8 reais no Brasil. Atualmente, a média de preços no país é de 5 reais.
Petróleo
A decisão russa de cortar a produção do petróleo bagunça o mercado internacional. Delegados de outros membros da coalizão OPEP+ sinalizaram que não aumentarão a produção para preencher a lacuna.
A redução da Rússia equivale a cerca de 5% da produção de janeiro. O Kremlin insinuou repetidamente tal movimento desde que a União Europeia e o G7 começaram a discutir a limitação do preço do petróleo bruto e das exportações de produtos refinados russos em meio à guerra na Ucrânia.
“A Rússia acredita que o mecanismo de preços máximos para o petróleo e derivados russos é uma intervenção nas relações de mercado e uma extensão das políticas energéticas destrutivas do Ocidente coletivo”, disse o vice-primeiro-ministro Alexander Novak em comunicado na sexta-feira. Seu serviço de imprensa confirmou que a produção de petróleo será afetada pelos cortes.
A produção de petróleo russa tem se mostrado resiliente, em meio a várias ondas de restrições de energia impostas pelas nações ocidentais e seus aliados. Desde que atingiu uma baixa pós-invasão de 10,05 milhões de barris por dia em abril de 2022, a produção de petróleo russa se recuperou para cerca de 10,9 milhões de barris no final de 2022. Permaneceu perto desse nível em janeiro, apesar da proibição da União Europeia da maioria das importações marítimas do petróleo do país em 5 de dezembro.
Ainda assim, a receita do petróleo de Moscou sofreu um golpe nos últimos meses em meio aos limites de preço e aos preços globais do petróleo geralmente mais baixos. O desconto com o qual o petróleo dos Urais – o principal tipo de exportação da Rússia – é negociado em relação à referência internacional também aumentou, à medida que o país busca novos mercados e métodos alternativos de embarque diante das sanções.