O pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o pacote fiscal, feito na noite desta quarta-feira (27), não convenceu. O tom usado pelo ministro, que trouxe os principais temas e decisões que serão detalhados, passou uma mensagem muito mais “vitoriosa” do ponto de vista político ao invés de apontar de modo direto o compromisso do governo com medidas que estejam alinhadas à necessidade de contenção de gastos. A opinião é de Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro Nacional e fundador do family office Oriz Partners, em entrevista a VEJA.
“Precisamos acompanhar os detalhes, mas o tom do anúncio foi muito mais preocupado com dar uma roupagem política, sem reconhecer que existe uma necessidade de contenção de gastos”, diz ele. “Haddad inclusive falou em corrigir erros do passado, que culminaram na proposta sobre isenção de imposto de renda (para salários até R$ 5 mil), que foi o que mais afetou a expectativa do mercado.”
Para Kawall, algumas medidas anunciadas passarão por emendas constitucionais, o que significa que o governo quer “jogar areia” na engrenagem do crescimento dos gastos obrigatórios, que já tomam mais de 90% da despesa total do governo. No entanto, ao invés de representar uma economia e um grau de flexibilidade maior para os orçamentos de 2025 e 2026, isso deve dar mais espaço para expansão do gasto discricionário. Nesse caso, há dúvidas tanto sobre o aumento de impostos para salários acima de R$ 50 mil, quanto em relação à mudança do abono salarial — dois temas trazidos por Haddad.
“O que precisaria hoje é ter um conjunto de medidas suficientemente robustas para fazermos uma transição de dois anos e não termos mudanças mais intensas de indexação do Orçamento, em educação e em saúde”, diz Kawall. “Com certeza essa será a principal agenda de quem for eleito em 2026 e a probabilidade de que tenhamos que voltar ao tema lá na frente, com mais medidas, é grande.”