Entre as décadas de 50 e 80, a goma de mascar viveu seu ápice de popularidade. Na boca de ídolos do rock e estrelas de Hollywood, virou símbolo de rebeldia. Mascar chiclete, naquela época, significava mais do que apenas sentir o gosto doce da guloseima. Representava bater de frente com pensamentos reacionários, demonstrar ousadia e ter sex appeal. Era sinônimo de liberdade. Não à toa, personagens de filmes que retratam o período mastigavam cheios de atitude. Basta lembrar dos indisciplinados alunos da comédia cult Clube dos Cinco (1985), de John Hughes, ou das bolas cor-de-rosa feitas por Frenchy Palardino (Didi Conn), melhor amiga de Sandy Olsson (Olivia Newton-John) no clássico Grease — Nos Tempos da Brilhantina (1978), de Jim Jacobs e Warren Casey. A produção, informa a lenda, distribuiu 100 000 gomas entre o elenco. Hoje, o futuro do doce é incerto. Na Europa, as vendas despencam desde o começo do milênio e, recentemente, a subsidiária francesa do grupo americano Mars Wrigley (Freedent) anunciou o fechamento de 280 postos de trabalho. Segundo a empresa, os volumes produzidos por lá caíram 74% entre 2012 e 2020. Os principais motivos são as mudanças de hábito. No velho continente, a rebeldia deu lugar à alimentação saudável. Nos Estados Unidos, a história é um pouco diferente — masca-se muito, mas a pandemia foi um baque.
Com as pessoas fechadas em casa e a boca coberta por máscara, as vendas registraram queda global de 21,3% no ano passado. De acordo com pesquisa da Nielsen Consultoria, de todos os doces, a goma de mascar foi o que pagou o preço mais alto pela crise sanitária. “Estima-se que 75% do consumo de chiclete esteja na rua”, disse Dirk Van De Put, CEO da Mondelez, conglomerado americano fabricante de doces. No entanto, a retomada das atividades e a flexibilização do uso de máscaras possibilitadas pela vacinação estão refazendo a curva, ao menos entre os americanos. Sonha-se, agora, com os tempos áureos que se foram. Em 2004, uma goma que teria sido cuspida pela cantora Britney Spears foi leiloada por 14 000 dólares. Após dois anos de quedas, dados da Nielsen revelam que, em maio de 2021, os americanos compraram 15 milhões a mais de chicletes do que em janeiro. No Brasil, a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas informou que a produção cresceu 24,3% no primeiro semestre de 2021, comparada ao mesmo período de 2020. “A retração sentida pelo setor em 2020 foi imposta principalmente pela pandemia”, disse a entidade em nota. Ainda veremos bolas cor-de-rosa por aí? O tempo e a criatividade dirão.
Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759