As semanas pós-eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como novo presidente eleito no segundo turno das eleições têm sido de muita volatilidade para a Petrobras. Desde que Lula saiu vitorioso nas urnas, as ações da Petrobras acumulam queda de 30%. Nesta terça-feira, 22, os papéis estão fortemente em queda após o banco de investimento UBS rebaixar a recomendação e cortar o preço-alvo da companhia em mais da metade, de 47 reais para 22 reais. As perdas se acentuaram ainda mais durante o dia com a indicação do senador Jean Paul Prates (PT-RN) para conduzir os trabalhos do subgrupo de petróleo, gás natural e biocombustíveis do governo eleito. As ações da companhia registram queda nesta terça, às 15h54, com PETR3 em baixa de 2,41%, a 26,37 reais, enquanto os ativos PETR4 negociam em baixa de 2,89%, a 22,84 reais.
Jean Paul Prates vinha sendo apontado pelo mercado como um dos nomes preferidos de Lula para assumir a presidência da Petrobras. Apesar de um extenso currículo, tendo atuado como consultor na área de petróleo e gás e secretário de Energia do Rio Grande do Norte, Prates defende, assim como Lula, a retomada de investimentos em refinarias, a redução dos pagamentos de dividendos, e mudanças na política de paridade de preços, o PPI — que também foi alvo de críticas e tentativa de intervenção durante o governo de Jair Bolsonaro em meio à escalada de preços dos combustíveis.
Em seu relatório, o UBS sinaliza que boas medidas adotadas a partir de 2016 podem ser revertidas, com o banco já esperando por mudanças na direção da empresa. “Iniciamos a Petrobras com um tom positivo em 2016 e mantivemos uma visão de apoio durante a maior parte desse período”, diz o relatório, apontando para a queda da dívida de 120 bilhões de dólares para 54 bilhões de dólares, os pagamentos significativos de dividendos, e a reclassificação potencialmente positiva da estatal. “Seis anos se passaram e nós agora acreditamos que essas fases estão em um caminho de reversão, com os próximos anos mais sombrios”, diz o relatório.
A distribuição de dividendos da Petrobras para acionistas vem sendo alvo de duras críticas de Lula e de integrantes do seu partido, que já deram sinalizações de que pretendem diminuir esses repasses para realizar investimentos. A Petrobras distribuiu 180 bilhões de reais em dividendos aos acionistas este ano. A União é detentora de 38% do controle da estatal, o que torna o governo brasileiro em acionista majoritário e, portanto, o maior beneficiário desses dividendos. Dos 43,7 bilhões de reais anunciados em dividendos no terceiro trimestre do ano, 16 bilhões irão para o caixa do governo federal.
Mas os críticos aos dividendos, como o próprio PT, alegam que a Petrobras está esvaziando o caixa e deixando o próximo governo sem dinheiro para os investimentos. Aumentar os investimentos da petroleira tem sido uma das principais sinalizações de Lula. O histórico do partido, no entanto, após deflagrado o esquema de corrupção, acende o alerta para o mercado sobre o futuro da Petrobras em mais um governo petista. No centro desses investimentos estão a retomada das refinarias, que estavam em processo de venda, mas a fala de Prates nesta terça-feira, 22, de que o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, se comprometeu a sustar ou suspender a venda de ativos, gerou ainda mais estresse no mercado. O investimento em refinarias assombra pelo passado, marcado por escândalos de corrupção com obras superfaturadas que culminou na Operação Lava-Jato, no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão de Lula.
Sobre mudanças na política de preços, o UBS diz que “não há definição da nova política de preços da empresa”, mas os analistas projetam compressão da margem de refino. O Itaú BBA também rebaixou a recomendação para Petrobras. “Considerando a falta de clareza quanto ao futuro da política de preços da empresa, acreditamos que isso é um grande risco para a história de investimento da Petrobras. Reiteramos nossa recomendação para a ação, enquanto aguardamos mais clareza sobre o futuro da empresa, especialmente no que diz respeito as diretrizes para política de preços e alocação de capital”, diz o relatório. O Bradesco também emitiu nota dizendo que a maior parte dos dividendos recebidos não serão reinvestidos devido aos “riscos percebidos”.