A viagem de um ex-jogador de basquete da NBA à Coreia do Norte, por si só, já chamaria atenção em um momento em que o conflito entre o fechadíssimo país asiático e os Estados Unidos se encontra em nível crítico, com uma ameaça real de guerra e americanos em solo norte-coreano sendo presos ou enviados de volta para casa em coma. Quando o jogador em questão é o polêmico astro Dennis Rodman e ele é amigo do ditador Kim Jong-un, a visita ganha alcance mundial. Agora, some a isso tudo um patrocinador totalmente incomum – uma moeda virtual criada para comercializar maconha – e a receita para o bizarro espetáculo está completa.
De um hotel em Pequim, antes de embarcar no voo que o levaria a Pyongyang na terça-feira, Rodman gravou um vídeo em que afirma ser a única pessoa no mundo que tem amizade com os líderes rivais dos dois países e que seu objetivo é abrir as portas para o diálogo entre eles. A declaração cuidadosamente ensaiada vem acompanhada de um agradecimento ao responsável por bancar a viagem, o Potcoin, a criptomoeda da maconha legalizada.
Assim que o vídeo foi publicado na página do Twitter do astro, a cotação da ainda pouquíssimo conhecida criptomoeda disparou. A valorização do Potcoin no dia chegou a quase 100% e, mesmo tendo caído um pouco em seguida, segue em alta, valendo cerca de 0,40 centavos de real. Pode não parecer muito, principalmente se comparada à outra moeda digital, o Bitcoin, avaliado hoje em quase 7.660 reais. Mas a exposição da marca, estampada ostensivamente na camiseta e no boné do jogador durante os últimos dias, colocou definitivamente a Potcoin no mapa, à frente de muitas dezenas de outras moedas virtuais que existem hoje, à semelhança do Bitcoin.
O que é Potcoin
Criada em 2014, a Potcoin é uma moeda virtual, em que a transação é realizada online diretamente entre as partes, sem mediação de uma instituição financeira. Uma pessoa pode comprar a moeda da empresa que administra ou de outros usuários. A diferença principal entre ela e o Bitcoin é justamente essa: no Bitcoin não há uma empresa administradora. Para o usuário, no entanto, pouca coisa muda.
“As criptomoedas têm duas grandes vantagens. Uma é que você elimina os intermediários das transações e assim evita taxas e custos adicionais. A outra é a garantia de anonimato”, diz Jorge Rocha especialista em cibersegurança da empresa de tecnologia Arcon. “A Potcoin funciona como qualquer moeda digital, mas ela tem uma filosofia por trás, tem o objetivo de defender e estimular o mercado específico da maconha”, completa.
A justificativa para a concepção da Potcoin foi atender a comerciantes legais de maconha que enfrentam problemas para usar o sistema financeiro tradicional. Apesar de ter sido legalizada em alguns estados americanos, os bancos em geral se recusam a receber dinheiro proveniente da erva, pois a legislação a respeito – tanto nos Estados Unidos quando em outros países – não prevê a comercialização legal e, portanto, as transações podem ser consideradas crime.
Apesar de menos difundida que sua concorrente mais famosa – e portanto, com um mercado de aceitação ainda pequeno – a Potcoin pode ser usada para comprar qualquer coisa na internet e convertida em moeda real. “Existem inúmeros traders que fazem esse câmbio. A ideia é oferecer facilidade para esse mercado e, se você é uma empresa, precisa pagar luz, funcionários, fornecedores. Você converte o pagamento que recebe em Potcoin para sua moeda local”, diz Rocha. “O grande desafio das criptomoedas é saber como os bancos vão reagir ao crescimento desse mercado. Ainda é muito cedo para dizer o que vai acontecer. Por enquanto, tudo é especulação”, completa.