Entre desonerações propostas e o criticado imposto sobre transações que muito se assemelha à vilipendiada CPMF, a proposta de reforma tributária do ministro da Economia, Paulo Guedes, é a controvérsia da vez. O dramaturgo Nelson Rodrigues brincava que toda coincidência é inteligente. Se não iluminadas, as congruências do Brasil dos atuais tempos são, no mínimo, cômicas. Em dissonância à proposta do ministro, o deputado Paulo Guedes, do PT de Minas Gerais, apresentou a sua própria “reforma tributária”. Não bastasse o nome e o partido, a proposta é completamente o oposto da que defende o Guedes mais famoso. O petista defende a criação do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), com alíquota de 2,5% sobre o valor dos bens de pessoas físicas ou empresas que tenham patrimônio líquido superior a 50 milhões de reais, na contramão do que evoca o ministro. Apesar do Guedes do governo ter demonstrado motivação em criar um imposto sobre dividendos, a proposta de taxar grandes fortunas passa longe das caraminholas do ministro.
A proposta do homônimo petista envolve cobrar impostos sobre aquilo que o deputado considera “supérfluo”. “Precisamos taxar aquilo que é supérfluo, não a produção. Vamos taxar um iate, um volume a partir de 50 milhões em patrimônio. Se o capital serve para investir, gerar emprego e renda, deixa para lá, não tem que ser taxado neste imposto. Mas um jatinho precisa ser taxado, se tem uma casa de praia num balneário, precisa ser taxado”, defende Guedes – o do PT – em entrevista a VEJA. Segundo ele, trata-se, apenas, de uma regulamentação de algo previsto pela Constituição. “As ideias são totalmente diferentes, igual só o nome”, diz. “Ele defende o capital financeiro, mas eu sou um deputado de uma região pobre de Minas Gerais. Não sou banqueiro, sou ex-carroceiro e ex-boia-fria”. E ainda faz uma provocação. “Com certeza, Paulo Guedes será o primeiro a ser taxado”, finaliza o outro Paulo Guedes.
A proposta do petista envolve tributar veículos de valor superior a 500 mil reais, barcos orçados em 1 milhão de reais ou mais e aviões que superem os 5 milhões de reais. Os recursos arrecadados seriam destinados, segundo a proposta, exclusivamente a projetos para construção de unidades de ensino ou de saúde credenciados pelo governo federal, pelos estados ou pelos municípios. Ele, ludicamente, acredita na benevolência dos endinheirados: a alíquota seria menor, de 1,75%, para os contribuintes que espontaneamente declararem suas grandes fortunas e bens. Sobre a critica contumaz e mais óbvia, a evasão patrimonial dos milionários, Paulo Guedes (o petista) faz troça: “Essa sempre foi a desculpa para não taxar as grandes fortunas. Todas as grandes nações já fizeram isso”. Eis a dica de Paulo Guedes a Paulo Guedes.