O presidente-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, disse que vai propor a remoção do presidente do conselho de administração, Carlos Ghosn, em reunião do colegiado na quinta-feira (22), citando incidentes de má conduta financeira do executivo. Em entrevista nesta segunda (19), Saikawa confirmou a prisão de Ghosn por suspeita de fraude fiscal.
Venerado no Japão por salvar a Nissan da falência, Ghosn foi detido em Tóquio por suspeita de malversação e sonegação fiscal após uma investigação interna da fabricante de automóveis. “Na quinta-feira, vou convocar uma reunião do conselho para fazer uma proposta para afastá-lo do cargo de presidente”, afirmou Saikawa.
A notícia da prisão veio à tona no fim da tarde desta segunda em Tóquio, hora local. A imprensa japonesa anunciou que o CEO da Renault, que também dirige os conselhos de administração da Nissan e da Mitsubishi Motors, estava sendo ouvido pelo Ministério Público de Tóquio e acabou sendo detido.
O franco-líbano-brasileiro de 64 anos é suspeito de sonegação fiscal. Na Bolsa de Paris, a ação da Renault caía mais de 12%. Em Tóquio, o mercado estava fechado quando os primeiros boatos surgiram.
Segundo as autoridades locais, a remuneração de Ghosn totalizou 1,1 bilhão de yens, aproximadamente 9,7 milhões de dólares, no ano fiscal de 2016. No período seguinte, ele reportou uma remuneração de 730 milhões de yens, uma redução de 33%.
Carlos Ghosn “declarou, durante anos, renda inferior ao montante real”, afirmou a Nissan em um comunicado, de acordo com os resultados de uma investigação interna. “Além disso, várias outras malversações foram descobertas, tais como a utilização de bens da empresa para fins pessoais”, acrescenta o grupo.
Outro executivo da Nissan, Greg Kelly, também está na berlinda, completou a Nissan.
De acordo com a emissora de televisão pública NHK, a sede da Nissan em Yokohama, perto de Tóquio, foi alvo de uma operação de apreensão e busca à noite.
Em declarações nesta segunda, o presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu que o governo será “extremamente vigilante” em relação “à estabilidade” da Renault e ao futuro de sua aliança com a Nissan.
“É muito cedo para se pronunciar sobre a realidade dos fatos”, declarou o presidente francês, questionado em uma entrevista coletiva em Bruxelas, ao lado do premiê belga, Charles Michel.
Mas, acrescentou, que “o Estado, enquanto acionista (da Renault), será extremamente vigilante quanto à estabilidade da aliança e do grupo”. Macron afirmou ainda que o governo dará “todo seu apoio” ao “conjunto de funcionários” da empresa.
Cortador de gastos
Ghosn chegou a Tóquio em 1999 para recolocar a Nissan nos trilhos, no momento em que a empresa acabava de se unir à francesa Renault. Ele foi nomeado CEO dois anos depois.
Apelidado de cost killer (cortador de gastos), ele transformou um grupo à beira da falência em uma empresa lucrativa com volume anual de negócios da ordem de quase 100 bilhões de euros. Isso lhe valeu grande admiração no Japão.
Em abril de 2017, passou o bastão para Hiroto Saikawa, ainda permanecendo à frente do conselho de administração. Passou a se concentrar mais na aliança da Renault com a Mitsubishi Motors, que ele levou para o topo da indústria automobilística mundial.
Como CEO da Nissan, ganhou, no período de abril de 2016 a março de 2017, quase 1,1 bilhão de ienes. Além disso, recebia mais de 7 milhões de euros como CEO da Renault, a qual dirigiu a partir de 2009, depois de ter sido seu diretor-geral desde 2005.
Carlos Ghosn também preside o conselho de administração da Mitsubishi Motors, empresa que ele salvou no fim de 2016, ao assumir, via Nissan, uma participação de 34% no grupo então envolvido em um escândalo de falsificação de dados.
A parceria Renault-Nissan-Mitsubishi é hoje uma construção de equilíbrios complexos, constituída por distintas empresas ligadas por participações cruzadas não majoritárias. A Renault detém 43% da Nissan, que possui 15% do grupo francês, enquanto a Nissan possui 34% de seu compatriota Mitsubishi Motors. Rumores de fusão vazaram recentemente.
As acusações contra Carlos Ghosn, que construiu essa aliança sozinho, acumulando funções, são um duro golpe no trio franco-japonês que reivindica o título de primeiro conglomerado automobilístico mundial. No ano passado, foram 10,6 milhões de carros vendidos, superando os concorrentes Toyota e Volkswagen.
Com AFP e Reuters