Salim Mattar, o secretário de Desestatização, responsável pelo programa de privatizações do governo, é um homem pressionado. Ele é cobrado diariamente pela lentidão para entregar os projetos que serão oferecidos à iniciativa privada. Nesta quarta-feira, 29, ele, que responde ao Ministro da Economia, Paulo Guedes, mostrou-se insatisfeito com as cobranças. “Estou explicando, não justificando: no ano passado, ficamos muito focados na reforma da Previdência e começamos a trabalhar forte apenas em agosto ou setembro”, queixou-se publicamente. “Todos os dias encontramos uma estatal diferente.”
O trabalho, argumentou, é difícil. E é mesmo. Como ponderou o secretário, a Constituição veda a venda de estatais estratégicas. Por isso, segundo ele, há muito trabalho realizado nos bastidores que não são percebidos pela opinião pública. “Passo 80% do meu tempo desfazendo coisas de antigas gestões”, lamentou. “Nosso papel é remodelar o tamanho do Estado. Minha responsabilidade é tirar o estado da vida privada”.
De acordo com dados apresentados por Mattar, o Governo Federal tinha participação em 698 empresas desde o início da gestão de Jair Bolsonaro. No total, segundo a secretaria, o Executivo conseguiu desfazer-se de 71 participações durante o ano passado e já reduziu sua participação em sete empresas em 2020, com resultados de 7,5 bilhões de reais nos cofres do governo, principalmente em empresas subsidiárias. Segundo ele, Petrobras, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal não serão vendidos.
Em agosto, o governo apresentou as empresas que estão no plano de desestatização — sem data ou planos definidos. Consideradas cerejas do bolo do pacote, duas estatais incluídas nos novos estudos representariam, além da possibilidade de abatimento da dívida pública, o fim da responsabilidade sobre companhias que só causam dor de cabeça.
Apesar de os Correios ainda gerarem lucro — em 2018, último balanço divulgado pela estatal, a receita somou 18,9 bilhões de reais, com um lucro de 161 milhões de reais —, a margem de operação é inferior a 1%. Ou seja, uma decisão errada tomada e a capacidade financeira da empresa degringola. Além disso, segundo cálculos do Tesouro Nacional, o Correios ruma para ser uma estatal dependente da União, que comprometeriam gastos de até 19 bilhões de reais anualmente. A informação foi publicada, originalmente, pelo Valor Econômico e confirmada por VEJA. Um dos motivos é falta de condições para investimentos, o que faz com que os Correios percam cada vez mais rapidamente participação no mercado de correspondências e entregas.
Reportagem de VEJA publicada em julho mostrou que, entre 2013 e 2019, enquanto a parcela da população que usa os Correios caiu de 81% para 62%, a porcentagem de brasileiros que opta por empresas de transporte privadas subiu de 15% para 33%. A janela de oportunidade para a venda a um valor vantajoso está se fechando. Entretanto, o principal ônus é o fundo de pensão da companhia: envolvido em escândalos de corrupção, o Postalis acumula um rombo de 11 bilhões de reais, que precisa, por força de lei, ser coberto pelo Tesouro. E, sim: quem não se lembra do envolvimento dos Correios no escândalo do mensalão? É hora de vender. E, apesar das dificuldades, é isso que Salim Mattar quer.