O que levou a senhora a assinar o chamado “Manifesto do PIB”, que reuniu 267 empresários, banqueiros e altos executivos em defesa do sistema eleitoral? Assinei porque achava que aquele ele não era só mais um. A minha atuação sempre foi em defesa das questões de equidade e no fortalecimento da democracia. Concordava com todas as linhas que estavam ali colocadas e não só assinei, como também trabalhei para articular o máximo de adesões.
Como foi esse processo? Fiquei sabendo logo no começo e procurei vários grupos de empresários. Mas também procurei deixar claro que eu não era a porta-voz daquele manifesto. Por mais que seja vista como herdeira do Itaú, sou muito mais ligada às ONGs de filantropia e educação. O manifesto era algo para todos signatários aparecerem. É muito importante que as pessoas ligadas a grandes empresas, ao PIB brasileiro, se manifestem publicamente em defesa da democracia.
Qual o motivo da resistência dos líderes ligados aos negócios e finanças em se posicionar publicamente em relação às questões políticas? Aqui o poder do governo federal é muito maior que nos Estados Unidos, por exemplo. Por lá, talvez os empresários sejam mais livres, tenham mais autonomia. No Brasil, parece-me que as consequências são maiores. Muitas vezes um governo pode ameaçar ou impor algumas medidas que saem do controle.
Como vê manifestações como as do 7 de setembro? Desde a eleição de Jair Bolsonaro, eu me preocupo muito, porque a pauta deste governo vai contra os meus princípios. O presidente vem numa escalada que se acentua desde a invasão do Capitólio, nos EUA. Ele já anunciava que ia atacar as instituições democráticas. A sociedade brasileira tem de fazer alguma coisa. Na minha opinião, o Congresso Nacional precisa ter uma atitude que não teve ainda, mais contundente. Acho que o impeachment é uma possibilidade importante. É triste ter de assistir passivamente a essa deterioração da política, das instituições democráticas, e à falta de respeito à humanidade e às pessoas.
A senhora participa do comitê de diversidade do Itaú Unibanco. O sistema financeiro não está atrasado na inserção de mulheres e negros? Temos discutido isso há alguns anos, com pessoas negras, em busca de mais inclusão nos quadros do banco. E, paralelamente a isso, temos apoiado projetos importantes, de empreendedorismo para mulheres e negros, e a inserção em universidades, por meio de bolsas de estudo que apoiam a graduação desses alunos. Ainda há um longo caminho a ser percorrido. Não é fácil implementar isso em uma instituição do tamanho do Itaú, com mais de 150 000 funcionários, mas é uma agenda que está sendo debatida.
Publicado em VEJA de 22 de setembro de 2021, edição nº 2756