O senhor se recuperou da Covid-19, mas sua mãe, infelizmente, não resistiu à doença. Como se sente em relação a essa perda? No início minha mãe já estava assintomática quando nós pegamos o vírus. E, quando levamos ela para o hospital, infelizmente era muito tarde. Em três dias, a doença tomou 95% de seus pulmões. Quando ela morreu cheguei a pensar: “Poderia ter feito mais pela minha mãe”. Eu me questiono se não deveria ter dado o tratamento preventivo que o governo recomenda. Talvez ela tivesse se salvado. Ela tinha 82 anos, sobrepeso, tomava mais de vinte comprimidos por dia, era cardíaca, tinha diabetes e insuficiência renal, por isso não demos os remédios. Diziam que seria perigoso.
O senhor fez esse tratamento preventivo? Sim. Depois, fiquei internado oito dias no hospital e recebi corticoide. Também tomei um remédio com nanotecnologia e uma injeção na barriga para evitar a coagulação do sangue, o que poderia levar a uma trombose. Além disso, quando você tem esse negócio, esse vírus, precisa dormir dez dias de bruços, para aliviar o funcionamento dos pulmões.
Como recebe as críticas de que provocou aglomerações em aberturas de lojas em plena pandemia? Veja só como são maldosos. Nossas inaugurações sempre foram grandes espetáculos e festas nas cidades. Durante a pandemia, inauguramos doze lojas, mas parei de fazer marketing na televisão — e olha que eu adoro propaganda — para divulgar essas aberturas. Só marco a data. Como as pessoas são muito fãs da Havan, se eu disser que vou para uma cidade, o aeroporto já fica cheio de gente e não consigo andar nas ruas. Na inauguração, por exemplo, no Pará, se tivesse feito propaganda pesada como antes, botava 500 000 pessoas lá. Eu só divulguei o dia e deu aquela loucura.
O senhor teve alguma sequela provocada pelo vírus? Esse negócio do coronavírus me deixou mais ligado. Não sei se por causa dos remédios, mas me sinto mais elétrico. Eu já era, mas agora estou mais ainda.
Como o senhor vê os novos presidentes eleitos no Congresso? Espero que eles estejam com o espírito da mudança. Acho que o governo Bolsonaro começa agora. No momento, não há alternativa: tem de vacinar todo mundo. Depois, é preciso fazer todas as reformas possíveis — a administrativa, a tributária. E o Congresso tem de autorizar a venda de todas as empresas estatais. Todas.
Publicado em VEJA de 17 de fevereiro de 2021, edição nº 2725