No último painel promovido por VEJA NEGÓCIOS, intitulado “O Petróleo e a Transição Energética”, no Fórum VEJA de Transição Energética, executivos de três importantes players do petróleo do Brasil delinearam cenários futuros para a demanda de petróleo em meio ao processo de descarbonização. A principal questão debatida foi como conduzir uma transição justa e equilibrada, que concilie a necessidade de reduzir emissões com a manutenção de uma oferta adequada para evitar choques de suprimento.
À medida que a transição energética se desenrola, o papel das grandes empresas de petróleo, como Petrobras, Shell e Brava Energia, vai além da simples produção de petróleo. Elas estão investindo cada vez mais em tecnologias de descarbonização e energias alternativas não apenas para atender às demandas regulatórias, mas para assegurar sua relevância futura em um mundo com crescente aversão ao carbono. Para a Petrobras, como apontado por Maurício Tolmasquim, diretor-executivo de Transição Energética da empresa, “investir na descarbonização é questão de sobrevivência”.
Mesmo com a demanda global de petróleo projetada para cair nos próximos anos, empresas que conseguirem produzir com menores emissões de carbono serão priorizadas no mercado. Desde 2015, a Petrobras já reduziu em 41% suas emissões no processo de produção de petróleo, destacando-se no cenário global. “Se a Petrobras não fizer isso, ela provavelmente pode estar fora no futuro”, afirmou Tolmasquim. Além disso, a ambição da Petrobras é continuar sendo uma grande empresa de energia mesmo quando a demanda por petróleo diminuir, por isso a companhia está expandindo seu portfólio para incluir outros produtos além de derivados de petróleo.
Tolmasquim destacou a complexidade desse desafio, argumentando que, em qualquer cenário futuro — incluindo o net zero —, o mundo ainda dependerá do petróleo. De acordo com as previsões da Agência Internacional de Energia (AIE), até mesmo no cenário mais otimista, que considera o cumprimento das metas do Acordo de Paris, a demanda cairia para 23 milhões de barris por dia, mas não desapareceria. Para Tolmasquim, restringir a produção sem mudanças significativas na demanda pode levar a choques de preço e desabastecimento, subvertendo os objetivos da transição energética. O Brasil tem todos os recursos necessários para ser um líder global nesse processo, mas isso não elimina a necessidade de continuar a produção de petróleo. “Não existe antagonismo entre o Brasil fazer a transição energética e, ao mesmo tempo, se preparar para atender à demanda mundial de petróleo”, acrescentou. O petróleo continuará a ser necessário, e o Brasil, com sua produção eficiente e menos poluente, está bem posicionado para ser um fornecedor global enquanto gera renda, que pode ajudar a financiar essa transição. Assim, longe de serem objetivos opostos, a transição energética e a continuidade da produção de petróleo podem ser, de fato, sinérgicas para o país.
O vice-presidente de Relações Corporativas da Shell Brasil, Flávio Rodrigues, reiterou a importância de manter o fornecimento de petróleo, apontando que, sem investimentos adicionais, o Brasil poderá enfrentar a necessidade de importar petróleo nos próximos dez a quinze anos. Ele vê nisso uma oportunidade para o país se consolidar como um fornecedor global, destacando que, apesar do avanço das energias renováveis, o petróleo continuará desempenhando um papel relevante na matriz energética mundial.
O presidente da Brava Energia, Décio Oddone. argumentou que, historicamente, as transições energéticas nunca implicaram a substituição total de uma fonte por outra, mas, sim, na adição de novas fontes. A crença de que a oferta de petróleo pode ser abruptamente reduzida, segundo ele, é irrealista e pode causar distorções no mercado, resultando em alta nos preços e insatisfação social. Oddone ressaltou que a transição energética deve ser conduzida de maneira gradual, equilibrando múltiplos interesses.