O mercado de trabalho é um importante termômetro para a economia. Se vai bem, é sinal que a economia vai bem, e o mesmo vale para o sentido oposto. Uma revisão feita pelo IBGE mostra que o número de desempregados ultrapassou os 15,2 milhões no primeiro trimestre deste ano, taxa de 14,9%, superior aos 14,7% divulgados, uma diferença de 452 mil pessoas. E, apesar de o Brasil apresentar recuperação no número de desocupados, os dados estão atrelados a uma maior informalidade e ao aumento de trabalhadores sem carteira assinada, é o que mostra a nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua reponderada, divulgada nesta terça-feira, 30, pelo IBGE.
A mudança do resultado ocorre devido a uma mudança metodológica na pesquisa. Nesta terça, o instituto divulgou uma nova série histórica da Pnad, que teve início em 2012. Segundo o IBGE, a pesquisa passa a incluir a calibração dos dados por sexo e idade, uma espécie de camada adicional para adequar a amostra da pesquisa à população brasileira de cada uma das áreas geográficas que compõem a Pnad Contínua. “A nova reponderação busca mitigar possíveis vieses de disponibilidade em grupos populacionais, intensificados pela queda da taxa de aproveitamento das entrevistas”, explica Adriana Beringuy, coordenadora de trabalho e rendimento do IBGE. Durante a pandemia, boa parte da coleta foi feita por telefone.
Ocupação
A população ocupada cresceu 4% no terceiro trimestre frente ao anterior. Em um ano, o crescimento é ainda maior, de 11,4%. Os dados levam a crer numa melhora na retomada do mercado de trabalho, que vem apresentando recuo na taxa de desemprego, estando agora em 12,6% — 1,6% menor em relação ao segundo trimestre. Mas a informalidade é crescente. A taxa de informalidade aumentou 2,6% em um ano, de 38% para 40,6%, e de 0,6% em relação ao trimestre anterior, quando registrava 40%.
O emprego de trabalhadores formais é fundamental para a melhoria das condições sociais e para o crescimento econômico do país, sendo também um sinalizador de uma economia aquecida, o que não é o caso do Brasil nos últimos anos. Vem havendo um aumento do contingente de empregos informais. O número de trabalhadores sem carteira no setor privado, que totaliza 11,7 milhões de pessoas, aumentou 23,1% em um ano — assim cerca de 2,2 milhões mais brasileiros estão trabalhando sem os direitos das leis trabalhistas. Em relação ao trimestre anterior, o aumento é de 10,2%, aproximadamente 1,1 milhão de pessoas.
As condições do mercado de trabalho têm levado muitos a optarem pelo emprego informal. O número de trabalhadores por conta própria, que totaliza 25,5 milhões de pessoas, o maior número desde o início da série histórica da pesquisa, cresceu 3,3% no terceiro trimestre. Em um ano, o aumento é de 18,4%, aproximadamente de 4 milhões de pessoas.
O aumento da informalidade também tem levado a rendimentos menores, com postos de trabalho que exigem menor qualificação e remuneram menos. O rendimento real habitual (2.459 reais) recuou 11% em um ano e caiu 4% frente ao trimestre anterior. A massa de rendimento real habitual, de 223,5 bilhões de reais, ficou estável em ambas as comparações.