Desde fevereiro, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, tem feito uma verdadeira peregrinação em busca de “vender” as oportunidades que a chegada da quinta geração de tecnologia móvel trará ao Brasil. De países nórdicos a asiáticos, visitou uma dezena de nações numa jornada apelidada de “Missão 5G”. E desenvolveu relações mais próximas com, pelo menos, uma delas: a Coreia do Sul. Faria reuniu-se duas vezes com a ministra Lim Hye-sook, chefe da pasta de Ciências e Tecnologia no país asiático, e recebeu um aceno significativo de sua contraparte sul-coreana: atuar pela construção de uma fábrica da Samsung para a produção de semicondutores, chips cruciais para o funcionamento do 5G, no Brasil.
Segundo Faria, as conversas avançaram entre os dois governos, mas, como a Samsung não é uma estatal, ainda depende de uma decisão de negócios da empresa sul-coreana. Com unidades fabris na Coreia do Sul e em Taiwan, a Samsung está construindo uma fábrica de semicondutores no Texas, Estados Unidos. Para convencer os asiáticos a investirem também no Brasil, algo que envolveria aportar valores bastante acima da casa do 1 bilhão de dólares e a criação de empregos muito qualificados, o ministro das Comunicações aposta na extensão do país e na possibilidade de produzir itens para o restante da América Latina e para a África. Fora isso, Faria acredita que a proposta, caso bem-sucedida, irá impulsionar a capacitação de recursos humanos no país. Antes de iniciar a produção, ele estima que seriam necessários quatro anos de preparação da mão de obra local para poder atuar no segmento. O Brasil chegou a ter fábricas de chips na década de 1980, mas ficou para trás na evolução tecnológica, em custos e na qualificação para países asiáticos, e até mesmo para a Costa Rica.
“Estou tentando um acordo de cooperação com a Samsung para que eles instalem uma fábrica de semicondutores aqui no Brasil. Já enviei uma carta de intenção por parte do nosso governo à ministra de tecnologia sul-coreana. Se a Samsung abrir essa fábrica no Brasil, vai conseguir fornecer para América Latina, Europa e África, além de todo o mercado brasileiro”, explica o seu raciocínio, em entrevista a VEJA. “Seria uma fábrica para produção de semicondutores. Como o Brasil será o primeiro país da região a implementar o 5G, temos tudo para sermos um hub de inovação, o que seria muito relevante para eles.”
A empresa de tecnologia com sede em Suwon tem capacidade de investimentos e apetite para um movimento do tipo. A Samsung anunciou, no início de 2020, que pretende investir até 116 bilhões de dólares para se fortalecer em áreas de semicondutores, que vão além da produção de chips para celulares. O objetivo da empresa é se tornar a maior processadora de semicondutores do mundo que permitam a adoção de inteligência artificial e 5G, além de serem usados numa infinidade de dispositivos. Faria mostra-se confiante: “A ministra sul-coreana está conversando com a Samsung. Estamos preparados para oferecer boas condições para eles no Brasil, incluindo uma força-tarefa para formar novos talentos”, diz o ministro. “O Brasil tem que pensar em transformação digital. Não dá para ficarmos para trás o tempo todo. No 4G, fomos um dos últimos. Isso não pode se repetir.” Resta saber se a proposta do governo brasileiro soará atraente e fará sentido para o plano estratégico da companhia.