Em relatório, o Bradesco ajustou para baixo a expectativa de inflação para 2024. Em janeiro, a previsão para o IPCA, índice oficial que mede o preço de alimentos e combustíveis, que agora é de 3,4%, era de 3,6%. “Mesmo com o câmbio médio elevado, os dados correntes e a redução do risco de alta de preços domésticos de alimentos nos levaram a revisar a inflação”, afirma em relatório Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco.
Um dos principais riscos para a inflação deste ano era o evento climático El Niño. O evento está tendo efeito sobre as safras brasileiras, com redução de produção de milho e soja, especialmente no Centro-Oeste. No entanto, os preços não estão subindo com essa redução de oferta porque a queda não é tão grande como chegou-se a temer no final do ano passado e, também, porque a safra global cresce consideravelmente, levando à queda de preços no mercado internacional. “Assim, revisamos nossa estimativa de inflação de alimentos de 4,5% para 3,5%”, prossegue.
O Bradesco afirma que os dados correntes de inflação também confirmaram alguns vieses de baixa para este ano, especialmente passagens aéreas e licenciamento e emplacamento. “Os dados efetivos já deixaram um ponto de partida mais baixo para as nossas projeções do ano”, diz em relatório.
Por outro lado, os resultados da inflação de serviços trazem mais cautela. A alta real de salários nos últimos meses de 2023 já tinha levado a uma revisão para cima nos rendimentos deste ano. A composição da inflação nas últimas leituras trouxe um novo sinal de possível pressão salarial afetando a inflação. Os serviços mais intensivos em mão de obra aceleraram, assim como os serviços subjacentes como um todo. “Segue sendo verdade que o ganho dos salários reais deriva mais da queda da inflação do que aceleração dos rendimentos nominais, mas esse ainda é um tema que requer monitoramento. Assim, revisamos para baixo o IPCA deste ano, de 3,6% para 3,4%, mas a composição do novo número inclui serviços mais elevados e alimentação e administrados mais baixos”, prossegue.
Produto Interno Bruto (PIB)
O Bradesco acredita que o PIB deve crescer 2,0%, sustentado pelo consumo das famílias e alguma recuperação de investimentos ao longo do ano; as contas externas seguem sólidas e a balança comercial continua surpreendendo positivamente. “O corte de juros nos EUA deve acontecer em junho, como esperávamos, e isso tem mantido o câmbio ainda pressionado. A apreciação, no entanto, deve ocorrer a partir de meados do ano. Mesmo com o câmbio médio elevado, os dados correntes e a redução do risco de alta de preços”, diz.
Balança Comercial
A balança comercial deve atingir 90 bilhões de dólares em 2024, segundo previsão, com déficit em conta corrente de 1% do PIB. Mesmo com menor volume exportado por conta da safra agrícola um pouco mais contida do que no ano passado e com queda de preços das principais commodities, as exportações de petróleo e minério devem manter um saldo bastante positivo. “O câmbio tem ficado mais pressionado do que nossa expectativa para o final do ano, em função de fatores globais: discussão de início do corte de juros nos EUA e redução de termos de troca, com queda de preços de commodities”, diz em relatório. “Os fundamentos para um câmbio mais valorizado, no entanto, seguem válidos e, após o início do ciclo nos EUA, acreditamos que há espaço para a valorização até R$/US$ 4,70, admitindo que os riscos em torno desse número estão um pouco mais assimétricos para um nível mais elevado”, completa.