A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado de capitais, divulgou na noite desta sexta-feira o motivo das cinco investigações contra JBS abertas desde a última quinta. A empresa foi alvo de rumores no mercado de ter usado a divulgação da delação premiada de um dos seus donos, o empresário Joesley Batista, para se beneficiar do impacto que as revelações causariam no mercado financeiro.
Desde quarta-feira, a notícia que Batista havia gravado o presidente da República Michel Temer dando aval à compra do silêncio do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) abalou os mercados. Na quinta, o Ibovespa teve queda tão forte que a B3 (antiga BM&FBovespa) precisou interromper as negociações após 20 minutos de pregão. O dólar disparou, registrando a maior valorização dentro de um dia em 18 anos. O conteúdo completo da delação veio a público nesta sexta-feira.
De acordo com a CVM, os processos buscam esclarecer: se houve uso de informação privilegiada para negociação (insider trading) de ações e dólar no mercado futuro; a negociação de ações entre a JBS e seu acionista controlador (FB Participações S.A, que tem entre seus sócios os irmãos Joesley e Wesley Batista); a atuação do Banco Original (que é da J&F, dona da JBS) no mercado de derivativos (um tipo de ativo financeiro); a atuação da JBS no mercado de dólar futuro; detalhes sobre a delação do Joesley Batista.
De acordo com os rumores do mercado, a JBS teria comprado uma enorme quantia de dólares antes da moeda se valorizar após as delações. A valorização teria sido suficiente para cobrir o valor da multa imposta à empresa pelo envolvimento no esquema de corrupção. A CVM teria sido notificada que o montante comprado na véspera da notícia da delação seria superior a 1 bilhão de reais, segundo informações do jornal Valor Econômico.
A agência de notícias Reuters também publicou que o grupo de controle da JBS vendeu 329 milhões de reais em ações da companhia em abril, operação que foi acompanhada pela compra de 200 milhões de reais em ações da empresa pela tesouraria da própria JBS no mês passado, segundo documentos enviados ao mercado.
Outro lado
Em nota, a JBS informa que “gerencia de forma minuciosa e diária a sua exposição cambial e de commodities”. “A JBS tem como politica e prática a utilização de instrumentos de proteção financeira visando, exclusivamente, minimizar os seus riscos cambiais e de commodities provenientes de sua dívida, recebíveis em dólar e de suas operações.”
Segundo a empresa, “as movimentações realizadas nos últimos dias seguem alinhadas à sua política de gestão de riscos e proteção financeira”.
A JBS ainda dá um exemplo do impacto de oscilações na cotação do dólar em seus negócios. “Ao considerar a variação cambial na cotação do dólar de 3,16 reais para 3,40 reais, como a ocorrida entre 31 de março (fechamento do primeiro trimestre) e 18 de maio, a companhia sofreria um prejuízo superior a R$ 1 bilhão.”
Em relação às operações com ações, a companhia informou que não se manifestaria sobre o assunto no momento.
(Com Reuters)