O temor de uma disparada nos preços do barril de petróleo com as restrições econômicas à Rússia, terceira maior produtora e segunda maior exportadora da commodity no mundo, tem preocupado as companhias aéreas, sobretudo as brasileiras. O preço do barril, que já chegou a ultrapassar a marca dos 100 dólares, está cotado, nesta segunda-feira 28, em cerca de 97 dólares, após uma valorização fora do normal. Para as companhias brasileiras ainda pesa o fato de o dólar ter voltado a atingir patamares mais altos com a escalada do conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia, na Europa.
“O aumento do petróleo assusta muito a indústria, justo num momento em que o setor estava tentando se recuperar dos efeitos causados pela pandemia. Mesmo que ainda não tenha se concretizado, existe uma possibilidade real de aumento, e isso preocupa muito as empresas aéreas”, diz o advogado Ricardo Fenelon Junior, ex-diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “No Brasil, fora o petróleo, ainda tem a questão do dólar, que responde por cerca de 40% a 50% dos custos das companhias aéreas brasileiras. Ou seja, um aumento do combustível e do dólar seria o pior cenário para as companhias do país.”
Restrições do espaço aéreo
Com o território ucraniano sob fortes bombardeios devido à incursão russa ao país, a União Europeia decidiu fechar o tráfego de seus espaços aéreos às companhias de aviação russas. Autoridades da Rússia, em resposta, anunciaram o fechamento de seu espaço aéreo para companhias de 36 países — a grande maioria é formada por nações europeias. Para Fenelon, o ‘conflito’ espacial tende a prejudicar o setor — e, por consequência, encarecer o valor das passagens para os consumidores.
“Companhias europeias que, eventualmente, precisavam utilizar o espaço aéreo da Rússia para realizar voos à Ásia, por exemplo, terão mais despesas, pois mudanças de trajetos tornam os voos mais longos e se traduzem em aumento de custo, como um gasto maior de combustível”, explica. “Mas, é claro que as restrições impactam mais às companhias russas, que vão ter seus voos para o Ocidente completamente comprometidos.”
Nos últimos anos, um pedido de bloqueio do espaço aéreo feito por países como Arábia Saudita, Bahrein, Egito e Emirados Árabes Unidos prejudicou a operação da companhia Qatar Airways. O litígio aconteceu após essas nações romperem laços políticos, comerciais e de transporte com o Catar, em junho de 2017, devido a acusações de que os catares apoiavam radicais islâmicos e o Irã. Essas relações foram retomadas em 2021, às vésperas da Copa do Mundo de futebol, que será realizada neste ano, no Catar.
Autoridades da Rússia anunciaram nesta segunda-feira, 28, o fechamento do espaço aéreo para companhias aéreas de 36 países. A maioria das nações é da Europa, mas o Canadá também está na lista, veiculada pela agência estatal RIA.
A medida é publicada em momento de tensões entre Moscou e potências do Ocidente, por causa do ataque militar russo na Ucrânia.
A nota da agência oficial diz que a Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia adotou a medida como retaliação, após estados europeus proibirem voos de companhias aéreas russas ou registradas no país.
Entre os países alvos da medida estão Bélgica, Reino Unido, Alemanha, Grécia, Espanha, Itália, Canadá, Holanda, Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, França, Finlândia, Croácia, República Tcheca, Suécia e Estônia.