Em um ano de forte desvalorização do real e assimetria da demanda, os preços na indústria subiram. A chamada ‘inflação na porta da fábrica’, que mede variação dos preços de produtos sem impostos e frete, subiu 19,40%, a maior alta desde 2014. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira, 29, pelo IBGE. Segundo o instituto, o acumulado é 3,6 vezes maior que a média anual dos últimos cinco anos.
Segundo Alexandre Brandão, gerente da pesquisa de Índice de Preços ao Produtor, entre os principais fatores para a alta dos preços no ano está a depreciação de 25,2% do real, o que tem impacto nos setores exportadores. O principal efeito vem da indústria de alimentos, que teve a maior influência entre todos os setores para alta de quase 20% da inflação ao produtor no período.
“Ao longo do ano, houve certos comportamentos importantes de alguns segmentos como a grande demanda chinesa por carne, o que aumentou o preço do produto no mercado internacional. Houve problema de oferta da soja, elevando os preços ao longo de 2020. Além da questão do arroz, com disparada dos preços em meados do ano, devido à escassez de oferta e aumento dos preços internacionais”, explica.
Os demais setores que contribuíram para a alta foram os de produtos químicos, metalurgia e indústria extrativa. Mas Brandão destaca que Refino de petróleo e produtos de álcool, que é o segundo setor de maior peso na indústria brasileira, depois de alimentos, foi o único que fechou 2020 com variação negativa. Isso pode ser explicado pelo comportamento do óleo bruto de petróleo no mercado internacional. Com a pandemia do novo coronavírus, o valor da commodity caiu devido a menor necessidade de deslocamentos. No fim do ano, entretanto, o valor do petróleo voltou a subir e foi a principal contribuição para o IPP de 0,41% em dezembro. Mas, com a segunda onda de Covid-19 em diversos países no mundo, o preço do barril do petróleo, agora, aponta para nova queda.