O Grupo Americanas ingressou, na tarde desta quinta-feira, 19, com pedido de recuperação judicial na 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro, com dívidas avaliadas em 43 bilhões de reais. É o quarto maior montante já registrado em um processo desse tipo no país, perdendo apenas para as recuperações judiciais da Odebrecht (avaliada em 80 bilhões de reais); da Oi (65 bilhões de reais) e da Samarco (65 bilhões de reais). A varejista diz ter 16,3 mil credores.
No texto entregue à Justiça, a Americanas diz ser a “maior empresa de omnichannel da América Latina”, sendo “orgulho para o público brasileiro e, em especial, para o cidadão fluminense”, e pede compreensão do sistema Judiciário brasileiro para evitar ir à bancarrota. “A Americanas é, sem receio de estar cometendo um exagero, um gigante nos mercados brasileiro e mundial, que precisa do apoio e da compreensão do poder Judiciário e dos credores para superar essa crise.”
O escândalo na Americanas teve seu estopim na semana passada, quando foi revelado um rombo de 20 bilhões de reais não declarados em seu balanço por “inconsistências contábeis”, o que fez a empresa a entrar com um pedido de tutela cautelar para proteger seu patrimônio na justiça. O imbróglio levou o valor das ações da Americanas a uma queda de quase 80% em menos de uma semana, tendo o valor das ações atingido seu menor patamar dos últimos anos na véspera do pedido de recuperação.
Na petição, o pedido de recuperação judicial do grupo varejista – que tem sofrido pressão dos principais bancos do país, seus maiores credores – busca “evitar danos irreversíveis ao seu caixa, que é essencial, passe o truísmo, para o funcionamento de uma grande empresa do setor varejista” e reclama de ser alvo de ações judiciais por parte de bancos como BTG Pactual, Bradesco, Goldman Sachs, Itaú, entre outros: “Alguns poucos credores, sem pensar nos impactos para a coletividade, tomaram medidas precipitadas que culminaram no perigoso esvaziamento do caixa da companhia e, consequentemente, inviabilizaram a sua operação a curto prazo e uma solução negocial coletiva sem o remédio recuperacional”. O grupo diz, ainda, que as ações não têm “embasamento contratual ou legal”.
A Americanas anunciou, em fato relevante, na manhã desta quinta-feira, que deveria entrar com a recuperação judicial em questão de “dias” ou “horas”. O pedido vem poucas horas depois da divulgação desse comunicado. A varejista dá a entender, ainda, que o pedido foi acelerado depois da perda de disputa na Justiça para o BTG Pactual e dos rebaixamentos promovidos por agências de classificação de risco para concessão de crédito, o que teria drenado mais de 3 bilhões de reais do caixa da companhia. “A situação ficou ainda pior em razão dos consecutivos rebaixamentos de rating da Americanas pelas agências de classificação de risco, o que fez com que os bancos se negassem a adiantar recebíveis de cartão de crédito, operação rotineira e historicamente feita pelo Grupo Americanas para capital de giro, drenando mais de R$ 3 bilhões do caixa da companhia”, afirmou.
Com o pedido, a empresa ganha “proteção” da Justiça contra ações e execuções existentes contra as empresas do grupo, e pede que seja suspensa “qualquer ordem de arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição sobre os bens, oriundas de demandas judiciais ou extrajudiciais, sobretudo se puderem prejudicar ou inviabilizar o processo de recuperação judicial” e pede a “imediata restituição de todo e qualquer valor que os credores eventualmente tiverem compensado – com relação especificamente ao Banco BTG Pactual S.A. (“BTG”) após ser reformada […] a teratológica decisão do Des. Flávio Horta Fernandes –, assim como dos valores eventualmente retidos e/ou apropriados por credores, em virtude do fato relevante veiculado ao mercado em 11.1.2023 e seus desdobramentos”.