Grande teórico dos ciclos econômicos, o austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950) escreveu que “a alternância entre expansão e retração é nada mais, nada menos, do que um reflexo de todo o processo econômico da era capitalista”. Tais marchas e contramarchas da riqueza são deflagradas por uma infinidade de fatores, boa parte deles intrínseca do processo econômico. Mas há também razões externas e inesperadas, que embaralham as dinâmicas de previsibilidade.
Flagelo da humanidade desde tempos imemoriais, as epidemias estão entre esses eventos abruptos. Assim que a contaminação pelo novo coronavírus alcançou escala global em 2020, bolsas de valores despencaram mundo afora, houve retração do consumo e da produção, o desemprego aumentou e os governos foram obrigados a preparar pacotes de socorro para evitar o colapso total. Agora que as vacinas começam a garantir a perspectiva de controle da infecção, as engrenagens voltam a funcionar com força ainda maior do que antes. Foi o que aconteceu há um século, depois do violento baque da gripe espanhola, com o surgimento de um novo mundo movido a eletricidade e massificação de novas tecnologias, como o automóvel. Deu-se igualmente vigorosa resposta ao cabo da peste negra, que desaguou no Renascimento e na era das grandes descobertas.
Estatísticas recentes mostram que a economia dos países desenvolvidos passará por uma expansão considerável nos próximos meses, com índices bem superiores aos registrados no período pré-pandemia. Os Estados Unidos preparam um salto de 6,4% de expansão do PIB em 2021, contra um crescimento médio anual de 2,5% entre 2016 e 2019 (em 2020, houve uma retração de 3,5%). Na França, serão 5,8%, contra 1,7%, no mesmo período. No Reino Unido, 5,3%, ante 1,5%. Canadá e Itália ficarão acima de 4%, quando antes não ultrapassavam a média de 2%.
Até o momento, contudo, o Brasil está fora dessa festa. E, caso queira participar, tem de se mover rapidamente, como aponta a reportagem que começa na página 44. Antes de tudo, será preciso acelerar o processo de vacinação da população. Com um porcentual de 18% de imunizados com a primeira dose, está em nítida desvantagem em comparação com países como Reino Unido (55%), Estados Unidos (47%) e Chile (47%). Em outra frente, é fundamental fazer as reformas estruturais compulsórias, tarefa complicada, já que o cenário político, com uma CPI em funcionamento e a antecipação das discussões eleitorais, está menos favorável.
Ainda assim, as oportunidades existem. O Brasil é um grande produtor de commodities agrícolas e minerais, artigos extremamente valorizados no atual processo de expansão global. Há 100 anos, conseguimos sair de uma situação semelhante de forma bem-sucedida. Em 1922, logo depois de controlada a pandemia de gripe espanhola, brasileiros celebravam com pompa e circunstância o centenário da Independência, com uma fulgurante exposição que mudou a face do Rio de Janeiro. Além de tanto sofrimento e mortes, seria mais uma lástima, hoje, não aproveitar a iminente retomada pós-pandemia global para tentarmos um novo salto econômico.
Publicado em VEJA de 26 de maio de 2021, edição nº 2739