Adam Smith, o pai da economia moderna, já dizia que a riqueza de uma nação não reside apenas em seu potencial produtivo, mas na capacidade de gerir eficientemente seus recursos. O Brasil, com uma máquina pública inchada e gastos fora de controle, há tempos caminha na contramão dessa visão. Hoje, as despesas da União continuam a subir em ritmo preocupante, corroendo o Orçamento e comprometendo o futuro econômico do país. Cálculos de especialistas estimam que a relação dívida-PIB alcance 80% ao fim deste ano, um número que explica as oscilações que temos testemunhado do dólar e da bolsa de valores. Vale ressaltar, no entanto, uma excepcional (e recente) mudança. É louvável ver que, finalmente, a atual administração de Luiz Inácio Lula da Silva — fortemente influenciada pela pregação do ministro Fernando Haddad — parece reconhecer a gravidade da situação. A necessidade de cortar custos, antes vista como uma afronta por setores do próprio PT, agora surge como um passo fundamental para a sustentabilidade financeira.
Nesta edição, VEJA traz um retrato detalhado dos principais escoadouros de recursos públicos. Em reportagem assinada pelo editor Márcio Juliboni e pela repórter Juliana Elias, serão evidenciados setores nos quais a ineficiência e o desperdício se tornaram norma, seja por má gestão, seja por vícios de longa data no uso do dinheiro federal. Um dos pontos críticos, por sinal, continua a ser o nosso sistema de Previdência, que, corrigido pelo salário mínimo, voltou a drenar recursos em excesso. Gastos com saúde, educação e aposentadorias são essenciais, é claro. Mas existe uma diferença gritante entre despender para o bem-estar da população, para que o país avance em áreas sensíveis ou vitais, e permitir que o dinheiro se perca em um emaranhado de burocracia, corrupção e mero populismo.
Esses “vazamentos”, é importante destacar, tiram verbas que poderiam nos transformar em uma nação mais justa e funcional para todos os seus cidadãos. Ao tapar esses buracos com uma execução eficiente do pacote fiscal, o governo tem a chance de reverter essa situação e pavimentar o caminho para um Brasil mais próspero e atrativo para investidores globais. Esse importante sinal de preocupação com as contas trará benefícios inequívocos para o financiamento de empresas e de projetos que necessitam de capital estrangeiro, além de provavelmente ajudar a diminuir o valor do dólar e da inflação. Em um cenário de despesas mais equilibradas, a confiança dos investidores aumenta, e o país se torna um polo de desenvolvimento e inovação. Em resumo: desinchar a máquina pública é um ato de responsabilidade com a sociedade, que clama por eficiência e resultados. Que o governo aproveite essa oportunidade para fazer do Brasil uma nação mais robusta e comprometida com seu próprio futuro.
Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2024, edição nº 2918