Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Braskem está no centro de uma disputa feroz entre Petrobras e Odebrecht

A maior petroquímica do país virou alvo de uma encarniçada briga que envolve a empreiteira, a estatal e bancos, interessados na venda imediata da empresa

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 15h09 - Publicado em 10 jan 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • As torres que expelem chamas e dominam o imenso complexo petroquímico da Braskem, em Camaçari, tingem o céu do Recôncavo Baiano de vermelho e não deixam nenhum morador do município esquecer o poderio do colosso ali instalado. Maior produtora de plástico do Brasil, a companhia emprega mais de 8 000 pessoas e produz cerca de 16 milhões de toneladas de resinas por ano. Hoje a petroquímica está no centro de um imbróglio que envolve dois mastodontes corporativos nacionais, um estatal e o outro privado: os sócios Petrobras e Odebrecht. Ambos se digladiam pelo futuro da Braskem, mesmo que isso faça sangrar o alvo da discórdia. A estatal vê a petroquímica como um boi pronto para o abate, que deve ser vendido imediatamente. Já a construtora, em recuperação judicial, aposta na valorização da Braskem como uma tábua de salvação para sua preocupante fragilidade financeira. O plano original, desenhado pela Odebrecht no ano passado, era recuperar o seu valor de mercado e vendê-la em até 36 meses para, com dinheiro na mão, pagar aos credores. A possibilidade, no entanto, foi rechaçada pelo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, pouco antes do Natal. “Queremos que pelo menos a nossa parte seja vendida em doze meses”, decretou na ocasião.

    Castello Branco é um executivo altamente alinhado com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Seu norte é vender todos os ativos da petroleira até que reste apenas uma atividade em sua vasta gama de negócios: a exploração de óleo e gás. A urgência, porém, aumentou depois de a Braskem ter se enfiado numa encrenca de dimensões titânicas em Maceió, Alagoas. Ali, uma instabilidade em uma mina de extração de sal-gema, utilizado na produção de PVC, provocou o afundamento do solo em bairros inteiros e rachaduras sérias em milhares de imóveis. A Petrobras teme que a desastrosa operação no Nordeste, aliada ao ciclo de baixas do setor petroquímico, culmine numa desvalorização severa do valor de mercado da empresa. O desastre de Maceió enterrou as negociações para a venda da petroquímica à holandesa LyondellBasell por 20 bilhões de dólares. Foi o estopim para que Castello Branco exigisse à Odebrecht que sacasse do posto o então presidente da Braskem, Fernando Musa. A construtora, acuada, acatou. Para solucionar a crise em Alagoas, a Braskem assinou um acordo de indenização com os 17 000 moradores afetados no valor de 1,7 bilhão de reais. A medida, apesar de caríssima, ajudou a melhorar a imagem da empresa para, eventualmente, torná-la mais atraente a potenciais compradores.

    arte-braskem-1

    Ao longo de todo o ano passado, a petroquímica foi desmontada aos poucos. Falhas na gestão de Musa, brigas entre os acionistas, o episódio em Maceió e a desistência da holandesa fizeram com que o valor de mercado da companhia despencasse 40%. A lucratividade caiu dos 2,9 bilhões de reais, registrados entre janeiro e setembro de 2018, para 124 milhões de reais no mesmo período de 2019. Não bastassem os problemas de gestão, fantasmas do passado também voltaram a assombrar a companhia. Seu ex-presidente José Carlos Grubisich — à frente do gigante entre 2001 e 2008 — foi preso nos Estados Unidos, no fim de novembro, sob a acusação de suborno e lavagem de dinheiro em um esquema internacional. Um diretor recém-saído da empresa resumiu o momento atual: “Trabalhar na Braskem é insano. Ela é uma fábrica de escândalos”.

    Mesmo com a notória filosofia liberal da gestão de Paulo Guedes, a declaração de Castello Branco sobre vender a participação da Petrobras em até um ano trouxe uma lufada de pânico e fúria à sede da Odebrecht, em São Paulo. A Braskem é um ponto nevrálgico na recuperação judicial da empreiteira. Com as dívidas dissecadas nos tribunais desde junho, a Odebrecht vê na venda da petroquímica a solução para quitar suas obrigações com os credores e redirecionar suas atividades exclusivamente à construção civil. A situação piora pelo fato de as três maiores instituições financeiras públicas do país — Banco do Brasil, Caixa e BNDES — deterem fatia expressiva dos 98 bilhões de reais que a empreiteira soma em dívidas. Os três bancos federais têm uma posição muito mais agressiva e uma paciência bem menos elástica que seus congêneres privados, que também sofreram calote, mas, ao contrário dos públicos, só realizaram os financiamentos com garantias — no caso, ações da Braskem. Com isso, numa venda a longo prazo da petroquímica, esses bancos tendem a ganhar. As instituições do governo, por sua vez, endurecem o jogo durante as assembleias de credores e cobram planos mais sólidos da Odebrecht. Para Caixa, BB e BNDES, a valorização da Braskem nada significa, pois querem a quitação dos débitos da forma mais rápida possível. Foi a Caixa, por sinal, que deflagrou o processo de recuperação judicial da Odebrecht após pedir a falência do grupo para executar uma dívida de 650 milhões de reais, em junho. O pedido foi negado pela Justiça.

    Continua após a publicidade
    CASTELLO-BRANCO
    IMPACiÊNCIA – Castello Branco, da Petrobras: venda em, no máximo, um ano (Mauro Pimentel/AFP)

    O jogo econômico por trás da Braskem é complexo e está exposto nos embates societários e nas assembleias de credores da Odebrecht. Há, porém, outros interesses com o poder de influenciar o destino da petroquímica. Do ponto de vista político, o governo de Jair Bolsonaro vê na Odebrecht um exemplo da corrupção desenfreada dos governos do PT que precisa ser varrido do mapa. A recuperação da Braskem e sua venda por um preço mais elevado, entretanto, podem dar novo fôlego à empreiteira. Já a venda imediata ajudaria a encher o caixa do governo, que necessita urgentemente de recursos para reduzir o déficit primário, e, de quebra, prejudicaria os planos da Odebrecht de se pôr de pé. No dia 22 de novembro, por exemplo, Paulo Guedes exaltou-se ao falar da empreiteira. “O BNDES emprestou à Odebrecht, que está quebrando”, afirmou. Logo após a reclamação pública, Guedes voltou atrás e disse que não deveria estar tocando no assunto. Foi um escorregão. Mas é evidente a vontade, tanto de Guedes quanto de Bolsonaro, de que a venda imediata da Braskem se transforme na pá de cal para uma companhia que teve uma expansão vertiginosa alavancada por malfeitos, propinas, fraudes e todo tipo de irregularidade justamente quando estava associada à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. “O governo lavou as mãos e passa a mensagem de que não vai ajudar a empresa”, diz uma fonte ligada às discussões judiciais. O risco é que, em meio a um embate que envolve tantos interesses e conflitos, o fogo que sai das torres da petroquímica acabe se apagando.

    arte-braskem-2

    Publicado em VEJA de 15 de janeiro de 2020, edição nº 2669

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.