O Brasil continua na lanterna do ranking mundial de competitividade digital. O estudo feito pelo IMD (International Institute for Management Development, em parceria com o Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC) mostra que o país está na 57ª posição entre 67 países analisados. A posição brasileira é a mesma do ano passado. A primeira posição no ranking geral é de Singapura, seguida por Suíça e Dinamarca. Os Estados Unidos aparecem em quarto lugar.
A análise leva em conta três pilares para classificar a prontidão das economias mundiais para incorporar novas tecnologias digitais que podem impactar a produtividade econômica, o crescimento dos países e das organizações: conhecimento e formação, aplicação tecnológica e a prontidão para o futuro.
“Os dez primeiros colocados têm um destaque significativo para a produção de tecnologia. São países que têm feito um dever de casa brilhantíssimo para a atração de investimento, para a formação de mão de obra e para a inovação. Ou seja, uma agenda muito bem casada entre conhecimento, pesquisa e aplicação dessas pautas”, diz o líder da pesquisa no Brasil, Hugo Tadeu, professor e diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da FDC.
Apesar de estar na lanterna da lista, o Brasil apresentou alguns destaques positivos em itens pontuais da análise, como o total de gastos públicos em educação (7º), produtividade em pesquisas de P&D (7º) e políticas de Inteligência Artificial aprovadas por lei (9°). Em relação ao investimento em telecomunicações, o país ficou com a 14ª colocação, com R$ 35 bilhões de investimento em 2023, o que está relacionado com as metas de 5G. Por último, o uso de smartphone também ficou em 14°.
Por outro lado, a prática de transferência de conhecimento (66°), financiamento para desenvolvimento tecnológico (64°), disponibilidade de capital de risco (64°), incentivo para desenvolvimento e aplicação tecnológica (63º) e legislação para pesquisa científica e inovação (63º) estão entre os piores resultados brasileiros. Veja os principais desafios para o país em cada um dos três pilares:
1.Conhecimento e Formação
Embora o Brasil seja o sétimo maior em gasto com educação, a qualidade não acompanha o investimento. “Na análise do quesito talento a gente está na penúltima colocação. Talento significa conhecimento, talento significa formação de mão de obra, significa as empresas investindo nessa formação de mão de obra”, diz Tadeu.
Ele destaca a necessidade de reskilling e upskilling, especialmente em inteligência artificial, mas falta integração entre ensino e geração de patentes que promovam inovação. A concentração científica nas principais universidades, como USP e Unicamp, sugere que apenas uma pequena parte da academia consegue atuar de forma competitiva globalmente.
2.Aplicação Tecnológica
O país ainda enfrenta barreiras de custo de capital para investimento em tecnologia e inovação. “Apesar da gente ter melhorado uma, duas colocações em capital, o famoso custo de capital para se fazer investimentos em tecnologia no Brasil continua a ser um desafio porque não é barato fazer investimentos em tecnologias, tanto , que tecnologias estruturais quanto para a IA”, diz Tadeu.
Além de a implementação de tecnologias de base e IA ser cara, e as empresas precisam adotar estruturas organizacionais mais ágeis para serem mais eficazes. Outro ponto importante é a dependência de conhecimento importado, com empresas brasileiras comprando tecnologia em vez de desenvolvê-la internamente, o que limita a transferência de conhecimento. “A gente tem poucas empresas que têm, na verdade, gerado conhecimento e exportado, ou seja, gerado divisas, divisas para o nosso país”, diz o professor que considera que ainda somos “fechados para esses assuntos.”
3.Prontidão para o Futuro
A capacidade de adaptação e agilidade para incorporar tecnologias emergentes de maneira contínua e estratégica depende de investimentos em infraestrutura, mas também do desenvolvimento de uma cultura organizacional e nacional que favoreça a inovação. Os países de destaque no ranking têm agendas bem alinhadas de educação, inovação e proteção de propriedade intelectual, essenciais para gerar riqueza. No Brasil, falta uma perspectiva de longo prazo focada na criação de conhecimento que seja traduzido em produtividade e riqueza. “Quando a gente olha para o gasto médio em educação, o Brasil está em sétimo lugar, mas não significa que esse gasto tenha qualidade. O mesmo ocorre em relação à pesquisa e desenvolvimento. “ O sinal que o relatório está dizendo é que a gente gasta muito mas não qualifica de uma forma adequada.”
Confira o ranking com os 10 países com mais e menos competitividade digital:
Posição |
País |
Posição por fator |
||
Tecnologia |
Conhecimento |
Prontidão para o futuro |
||
1º |
Singapura |
2º |
2º |
1º |
2º |
Suíça |
1º |
1º |
5º |
3º |
Dinamarca |
7º |
7º |
2º |
4º |
EUA |
4º |
4º |
8º |
5º |
Suécia |
3º |
3º |
4º |
6º |
Coreia do Sul |
8º |
8º |
3º |
7º |
Hong Kong |
5º |
5º |
15º |
8º |
Países Baixos |
9º |
9º |
7º |
9º |
Taiwan |
19º |
19º |
6º |
10º |
Noruega |
17º |
17º |
10º |
57º |
Brasil |
56º |
56º |
53º |
58º |
Colômbia |
55º |
55º |
49º |
59º |
México |
58º |
58º |
55º |
60º |
Botswana |
49º |
49º |
62º |
61º |
Filipinas |
64º |
64º |
58º |
62º |
Argentina |
61º |
61º |
47º |
63º |
Peru |
63º |
63º |
60º |
64º |
Mongólia |
62º |
62º |
64º |
65º |
Gana |
66º |
66º |
65º |
66º |
Nigéria |
65º |
65º |
|
67º |
Venezuela |
67º |
67º |
Fonte: adaptado de IMD World Digital Competitiveness Ranking 2024