Uma megaoperação feita por uma rede de mais de 400 jornalistas investigativos, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ. na sigla em inglês), revelou neste fim de semana operações financeiras que teriam beneficiado mafiosos, corruptos e fraudadores pelo mundo. De acordo com o ICIJ, mais de 2 trilhões de dólares transacionados em grandes bancos entre 1999 e 2017 são suspeitos de envolvimento em lavagem de dinheiro e atividades criminosas. A instituição afirma que isso seria apenas uma pequena parte de um oceano de recursos ilegais, uma vez que os arquivos investigados representam apenas 0,02% dos mais de 12 milhões de relatórios protocolados no FinCEN, órgão ligado ao Tesouro dos Estados Unidos responsável por investigações de crimes financeiros. Entre as instituições apontadas por terem realizado as transações, estão gigantes como HSBC, JP Morgan Chase, Bank of New York Mellon, Deutsche Bank e Standard Chartered Bank.
De acordo com os documentos, mesmo já tendo sido multado e notificado pelas autoridades americanas, o JP Morgan, por exemplo, que no total transacionou 514 bilhões de dólares relacionados a atividades suspeitas, esteve envolvido na retirada de grandes montantes de fundos públicos na Venezuela, Ucrânia e Malásia. Os registros apontam que mais de 1 bilhão de dólares foram movimentados para um fugitivo do gigantesco escândalo 1MDB, de 2015, quando o primeiro-ministro da Malásia foi acusado de desviar recursos de uma companhia pública para suas contas bancárias pessoais. Além disso, mais de 2 milhões de dólares foram transferidos pela instituição para a conta da companhia de um acusado de ter enganado o governo da Venezuela , e teria sido responsável pelos apagões elétricos no país. E ainda: os papeis apontam mais de 50 milhões de dólares em transações para o ex-gerente de campanha de Donald Trump acusado de corrupção envolvendo um partido político ucraniano.
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Clique e AssineDe acordo com o ICIJ, as instituições Standard Chartered Bank, HSBC, Deutsche Bank e Bank of New York Mellow também continuaram operando em transações suspeitas após acordos com as autoridades. No caso do Deustche Bank, por exemplo, teriam sido 1,3 trilhão de dólares relacionados a lavagem de dinheiro e atividades criminosas. Já o HSBC, que teria lavado mais de 881 milhões de dólares para grupos de drogas na América Latina e que foi punido em 2012 a pagar 1,9 bilhão de dólares, também teria continuado com as atividades ilegais. “Ao falhar totalmente em evitar transações corruptas em grande escala, as instituições financeiras abandonaram seu papel de linha de frente contra a lavagem de dinheiro”, declarou Paul Pelletier, promotor e ex-oficial sênior do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Os documentos somam mais de 1.200 arquivos enviados por bancos, entre 2000 e 2017, para o FinCEN, uma espécie de Coaf americano que verificou que alguns dos principais bancos mundiais lucravam com as transações. Os papeis foram vazados para o site de notícias americano Buzzfeed News, que, por sua vez, os compartilhou com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.
Devido ao tamanho da revelação, o mercado financeiro caía nesta segunda-feira, 21, influenciado pelas ações dos bancos. Às 12h23, os papeis do JPMorgan Chase & Co na bolsa de NY, que desde fevereiro caíram de 135 dólares e permaneceram em grande parte dos últimos seis meses abaixo de 100 dólares, operavam em queda de 4,26%. O Deutsche Bank, por sua vez, caía 8,91%. Já o HSBC operava em queda de 4,95% nas bolsas de Londres, a 288,95 libras esterlinas – em fevereiro desse ano os papeis valiam aproximadamente 550 libras esterlinas. Já o S&P 500 caía 2,61%, enquanto o índice Stoxx Europe 600 tinha queda de 3,2%, prejudicado também pelas novas ondas de coronavírus e o receio de que novos lockdowns sejam necessários na Europa.