Um dia após a renúncia de Rodolfo Landim ao cargo de presidente do conselho da Petrobras, o economista e consultor Adriano Pires comunicou na manhã desta segunda-feira, 4, ao Palácio do Planalto que desistiu de ocupar a presidência da Petrobras. Pires foi o escolhido pela União para substituir o general Joaquim Silva e Luna. Os conflitos de interesse de Pires o fizeram abrir mão na condição. O consultor formalizou a desistência em uma carta entregue ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
No documento, Pires admite que não poderia conciliar o cargo com as atividades de consultoria que já desempenha onde defende os interesses de diversas empresas do setor, muitas das quais concorrentes diretos da Petrobras. Ele disse, ainda, que chegou a iniciar as tratativas para se desvincular do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), do qual ele é sócio-fundador, mas admite que teria pouco tempo hábil para fazê-lo. O economista agradece a indicação e disse que continuará a lutar pelo desenvolvimento do mercado de óleo e gás no país.
Embora tenha trânsito livre em Brasília e apoio do Centrão, sobretudo do presidente da Câmara, Arthur Lira, para assumir a presidência da Petrobras, Pires enfrentou um ‘jogo duro’ dentro da companhia. Na quarta-feira, dia 30 de março, foram entregues relatórios da Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras sobre o histórico de Pires e de Landim ao ministro de Minas e Energia e a técnicos da Corregedoria-Geral da União.
Já era nítido que Pires enfrentaria algum tipo de retardamento em sua escolha como presidente da companhia. Ele deveria ser apontado como conselheiro na próxima assembleia-geral de acionistas da empresa, em 13 de abril, mas, antes disso, teria de revelar os clientes atendidos para a diretoria de governança corporativa da Petrobras. Embora tenha relutado em revelar seus serviços prestados para a iniciativa privada, no portal do CBIE há referências às gigantes americanas Chevron e Exxon Mobil, à britânica Shell e à própria Petrobras. A consultoria também menciona a Única (União da Indústria da Cana-de-Açúcar), Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Fierj (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), bancos privados, empreiteiras como a Odebrecht e a Braskem e o IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás). Esperava-se, no entanto, que qualquer “desvio de conduta” fosse contornado pela União no conselho.
Entre os clientes de Pires está, ainda, o empresário e sócio de distribuidoras de gás Carlos Suarez, que é amigo de longa data de Rodolfo Landim e empresário influente no setor e na política. Suarez teria sido, segundo fontes, um dos principais incentivadores às escolhas de Pires e Landim junto ao Centrão e à União. Além dele, outros clientes do consultor são a associação do setor (Abegás), a Compass, concessionária de gás do empresário Rubens Ometto, e diversas outras empresas do setor.
Com isso, o governo terá dez dias para nomear um novo presidente para a empresa ou terá de conviver por mais alguns meses com o general Joaquim Silva e Luna, atual presidente da Petrobras. Luna já foi avisado pelo governo que seu nome não será incluído na próxima assembleia-geral de acionistas da empresa, mas pode ver seu nome ganhar sobrevida na empresa com as recusas de Pires e Landim. Bolsonaro quer substituir Luna com intuito de mudar a política de reajuste de preços dos combustíveis na empresa, mas esta é outra tarefa árdua.