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A incoerência apontada por economistas sobre o pacote fiscal de Haddad

Inclusão da isenção do IR nas medidas de corte de gastos motivou a forte escalada do dólar na  tarde desta quarta-feira, 27, e a queda do Ibovespa

Por Camila Pati Atualizado em 27 nov 2024, 22h40 - Publicado em 27 nov 2024, 17h32
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  • A informação de que o aguardado pacote de corte de gastos seria anunciado em conjunto com a isenção de imposto de renda para as pessoas com salários até 5 mil reais não foi bem recebida pelo mercado financeiro. A tentativa de amenizar o prejuízo com medidas impopulares – como um teto de 2,5% para aumento real do salário mínimo, seguindo a lógica proposta pelas regras do arcabouço fiscal – caiu como uma bomba no mercado financeiro.

    Segundo economistas e interlocutores de mercado, essa combinação de anúncios foi o motivo para a forte escalada do dólar na  tarde desta quarta-feira, 27, e queda do Ibovespa. A moeda americana fechou no maior valor nominal da história: 5,91 reais,  “Basicamente, foi o mercado financeiro reagindo de uma maneira mais forte nesse momento em razão de que espera-se um pacote de redução de gastos e está sendo veiculada uma proposta de isenção de imposto de renda que, nesse caso, do ponto de vista das contas públicas, dificulta o ajuste fiscal, porque é uma renúncia de receita”, diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos. Em um cenário de necessidade por ajuste fiscal, abrir mão de receitas dificulta a visão do mercado de que o governo vai conseguir ajustar as contas, segundo o especialista.

    Segundo o ministro Luiz Marinho, o governo vai anunciar nas próximas horas o “pacote completo”, com as medidas de ajuste e outras medidas como isenção do IR, “supersalários, imposto para super ricos. Vem tudo aí, é o pacote completo”, disse Marinho, durante a coletiva de divulgação dos dados do Caged, na tarde desta quarta-feira.

    Pablo Alencar, especialista e sócio da Valor Capital, diz que caso a medida de isenção do IR seja mesmo anunciada hoje, o pacote de corte de gastos já parte de menos 50 bilhões, pois esse é o custo estimado de perda de arrecadação do governo com a medida. O economista lembra que a pressão inflacionária tem levado o Copom a elevar os juros e um dos motivos para é justamente o descontrole fiscal das contas públicas. “O fiscal está descompassado, e uma coisa que aliviaria muito a expectativa do mercado era um pacote fiscal que promovesse realmente uma redução de despesas”, diz Alencar, que aguarda agora a confirmação do tamanho do arroxo  que será necessário para equilibrar contas, estancar a inflação, que deve fechar o ano acima do teto da meta que é de 4,5%, e diminuir a escalada dos juros no Brasil.

    O economista Denis Medina, professor da Faculdade do Comércio, também diz que  uma possível combinação dos anúncios seria incoerente. “ O mercado, os economistas, os investidores, todo mundo está dizendo que o governo tem excesso de gastos e mesmo com a arrecadação recorde, a gente está tendo déficit enorme, comparável com economias em guerra”, diz. Segundo ele, o anúncio de um equilíbrio fiscal é aguardado desde antes das eleições de outubro, e vem sendo postergado. “ E agora, a gente fica sabendo que para trazer um a notícia que talvez não seja tão boa de corte de gastos, o governo vai trazer uma compensação que para o governo é ruim. É incoerente”, afirma Simões, sobre um anúncio que traria uma medida de diminuição da arrecadação. “ O recado está aí, dólar a 5,91 e bolsa despencando”, diz o professor. 

    Para ele, o governo usa a lógica do populismo ao combinar os assuntos e incluir uma promessa de campanha no anúncio. “Precisamos que o governo equilibre as contas, ele já arrecada bastante, só precisa cortar gastos”, diz. 

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