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A decepção do vencedor do Nobel de Economia com o governo Lula

O Nobel Daron Acemoglu afirmou a VEJA que países emergentes precisam adotar postura independente das grandes potências para garantir desenvolvimento sustentável

Por Luana Zanobia Atualizado em 14 out 2024, 16h44 - Publicado em 14 out 2024, 10h34
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  • Daron Acemoglu
    Daron Acemoglu (Jared Charney/MIT/.)

    O economista turco Daron Acemoglu, professor do prestigiado Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e coautor do best-seller Por que as Nações Fracassam, foi laureado nesta segunda-feira, 14, com o Prêmio Nobel de Economia, ao lado de Simon Johnson, também do MIT, e James A. Robinson, da Universidade de Chicago. O trio foi reconhecido “pelos estudos sobre como as instituições são formadas e impactam a prosperidade”.

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    O trabalho do trio ressalta a premissa fundamental de que instituições políticas fortes e inclusivas são a chave para o crescimento econômico sustentável. Na visão de Acemoglu, a história econômica de sucesso ou fracasso de qualquer país está menos relacionada a fatores geográficos ou culturais e mais à qualidade de suas instituições, que ou incentivam a participação ampla e inclusiva, ou concentram poder e recursos em uma elite restrita. As nações que fracassam, segundo ele, são aquelas que mantêm sistemas políticos e econômicos “extrativos”, que marginalizam grandes parcelas da população, reprimindo a inovação e o progresso.

    Esse mesmo conceito foi central em sua crítica às relações do Brasil no Brics. Em entrevista concedida a VEJA em junho de 2023, Acemoglu elogiou algumas políticas sociais adotadas pelos governos anteriores de Luiz Inácio Lula da Silva, mas expressou preocupações sobre a crescente influência da China no bloco econômico. Ele argumentou que o Brasil não tem agido com a independência necessária para resistir à ascensão da China como uma força dominante no Brics. “Estamos trilhando um caminho em que o Brics está sendo cada vez mais dominado pela China, e o mundo em desenvolvimento precisa de uma voz independente”, alertou Acemoglu. “Fui um grande apoiador do presidente Lula, mas agora estou extremamente desapontado. A atual expansão do grupo me parece ir em direção equivocada aos interesses do bloco.” Essa crítica reflete sua visão de que a ascensão de potências autoritárias como a China ameaça o equilíbrio global e perpetua sistemas institucionais que não favorecem a inclusão social e política.

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    A visão de Acemoglu sobre a China é especialmente relevante em um momento de crescente tensão geopolítica. Ele vê o sistema político chinês, altamente centralizado e autoritário, como um exemplo clássico de instituições extrativas que, embora possam gerar crescimento econômico a curto prazo, não são sustentáveis a longo prazo. “As instituições inclusivas são fundamentais para o sucesso econômico a longo prazo. A China, sem democracia e com instituições frágeis, enfrenta limites claros ao seu crescimento”, afirmou. Para ele, o controle estatal sobre a economia e a repressão política minam a capacidade da sociedade de inovar e prosperar de forma sustentável. Mesmo com os impressionantes avanços econômicos da China nas últimas décadas, Acemoglu acredita que o país está em uma trajetória insustentável, com desafios institucionais que impedirão seu progresso no futuro.

    No contexto global, Acemoglu é enfático ao defender que países emergentes como o Brasil devem adotar uma postura mais independente em relação às grandes potências, tanto China quanto Estados Unidos. Nações como Brasil, Índia e Indonésia, segundo ele, têm uma oportunidade histórica de liderar o debate sobre o futuro da tecnologia, inteligência artificial e o comércio global, sem se submeterem às agendas de Washington ou Pequim.

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    “Os países do BRICS estão se tornando clientes dos chineses e russos. O mundo precisa de uma nova ordem que vá além da bipolaridade atual”, disse ele, sugerindo que as economias emergentes precisam construir suas próprias estratégias de desenvolvimento, baseadas em instituições mais inclusivas e sustentáveis.

    Além disso, Acemoglu tem se dedicado a analisar a relação entre desigualdade e democracia. Em sua entrevista, ele argumentou que a alta desigualdade corrói as bases democráticas, prejudicando a estabilidade política e abrindo espaço para líderes populistas e autoritários. “Em países onde a desigualdade é exacerbada, a confiança nas instituições democráticas diminui, e figuras políticas que antes seriam impensáveis começam a ganhar apoio”, disse ele, apontando para o Brasil como um exemplo claro de como a corrupção e a desigualdade deterioraram a confiança nas instituições, levando um candidato com ideais antidemocráticos fosse eleito em 2019. Segundo Acemoglu, o fracasso em enfrentar esses desafios gera um ciclo vicioso que enfraquece a governança democrática e abre caminho para regimes autoritários.

    Acemoglu alerta que, sem reformas que fortaleçam as instituições inclusivas e reduzam as disparidades sociais, a democracia corre o risco de ser desmantelada gradualmente, até mesmo em nações que historicamente se consideram estáveis.

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