Nesta quarta-feira, 16, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin. É consenso entre especialistas em política internacional que o momento da viagem, mesmo marcada antes da crise da Rússia com a Ucrânia, foi inconveniente devido ao agravamento do conflito internacional. Altamente dependente do país para importação de fertilizantes, no entanto, o Brasil teve de se socorrer a Putin e seguir em frente para garantir o fornecimento do produto russo ao Brasil.
Desde o meio do ano passado, os preços dos fertilizantes subiram muito e estão na média 300% mais caros, o que impactará diretamente nos preços das próximas safras, que chegarão ao consumidor final em 2023. Já no ano passado, no final de novembro, a ministra de Agricultura, Tereza Cristina, esteve no país para firmar a troca comercial. O principal fruto da visita foi o compromisso dos russos de continuar e até aumentar o fornecimento de fertilizantes para o Brasil em um momento em que países como a China e a Índia estavam anunciando restrições e cotas de exportação.
Quase 85% dos fertilizantes consumidos no Brasil são importados e um quarto disso vem da Rússia. No caso do potássio, por exemplo, 93% do que é consumido é importado, e os seus principais produtores são o Canadá, a Rússia e a Belarus. “A visita de Bolsonaro é importante porque a nossa dependência em fertilizantes é brutal. Estamos precisando assumir compromissos com os países fornecedores, que são basicamente Canadá e Rússia, para garantir que importaremos aquilo que precisamos”, diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura.
“Com o embargo de Belarus, o mercado perdeu 12% do fornecimento internacional, por isso os preços mais que dobraram no último ano. Não podemos ficar sem a segurança de importar potássio”, diz ele. Além deste embargo, o fornecimento de fertilizantes no mercado internacional foi prejudicado pela pandemia. Por um lado, houve a redução da oferta, mas por outro um aumento da demanda causada principalmente pela alta do consumo de grãos chineses. “A China está no processo de reorganizar sua cadeia de suínos, que por sua vez consomem grãos. Houve um aumento da demanda tanto deles quanto de quem exporta para eles”, diz Larissa Wachholz, ex-assessora da ministra Tereza Cristina e sócia da consultoria de investimentos Vallya.
“O preço dos fertilizantes subiu muito no mercado internacional e isso tem um impacto forte no agronegócio brasileiro, por isso há uma mobilização no setor para tentar garantir que o Brasil não fique desabastecido”, diz ela. Além da alta da demanda da China, a oferta foi prejudicada pelos gargalos nos portos internacionais, causados pelo descompasso entre demanda e oferta da economia global com a Covid e também pela baixa de funcionários contaminados com a cepa Ômicron.
Produção brasileira
Para tentar diminuir a dependência das importações de fertilizantes, o governo federal está elaborando o Plano Nacional de Fertilizantes. Apesar de elogiado por diferentes especialistas do agronegócio, o programa não consegue resolver a crise atual, já que os resultados só serão colhidos daqui a 10 anos. O plano antecipa uma visão de longo prazo e as ações vão até 2050, entre elas, explorar mais fontes minerais e minas com tecnologia da Embrapa, além de desenvolver linhas de produtos da parte biológica.
“Nós temos uma indústria instalada no Brasil, mas ela não se mostrou competitiva aos produtores internacionais por diversos motivos. Sabemos que não seremos autossuficientes, mas nosso objetivo é torná-la mais eficiente para produzir um percentual maior”, diz Luís Eduardo Rangel, assessor da ministra Tereza Cristina para o Plano Nacional de Fertilizantes.