No Colégio Santa Cruz, em Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, a sirene que anuncia o início e término das aulas tocou normalmente nesta quarta-feira (23). Mas às 7h15 o que se via no pátio não eram estudantes, mas funcionários que varriam a escola. Em outras 36 instituições da capital, o cenário era parecido. E pode se repetir na terça-feira (29). O que preocupa e divide pais.
Professores da rede particular de ensino de São Paulo fizeram uma paralisação nesta quarta e já marcaram novo ato para a próxima semana. A categoria reivindica a manutenção de uma série de benefícios, enquanto o sindicato dos colégios propõe aumento salarial maior para restringir alguns pontos, como o recesso de fim de ano. O impasse continua.
O Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro) afirma que 3 mil professores pararam total ou parcialmente. Nesta quarta, nova assembleia reuniu cerca de mil docentes de 113 colégios. À noite, um ato público, contando ainda pais e alunos, chegou a ocupar dois quarteirões em um dos sentidos da Avenida Paulista, na região central.
Pais e filhos
O apoio de alunos já era visível desde o início da manhã. Na zona oeste, 30 estudantes protestavam diante do Colégio Oswald de Andrade em apoio aos professores. Com faixas que pediam “respeito” aos docentes, em meio a batucadas em tambores e gritos, o ato foi organizado pelo grêmio estudantil.
Uma das integrantes, a aluna do 2° ano do ensino médio Marina Perpétuo, de 15 anos, disse que o protesto era principalmente contra a postura do Oswald de Andrade, que decidiu não fechar a escola e não apoiar a paralisação. “Ouvimos que era muito pouco para muito barulho.”
Cerca de 60 alunos de outras três escolas (Santa Cruz, São Domingos e Equipe) protestaram às 8h30 na frente do Colégio Dante Alighieri, que manteve as aulas normalmente. Grupos ainda fizeram atos menores no Móbile, Bandeirantes, Albert Einstein, Rainha da Paz, São Luís e Objetivo (Paulista).
A manutenção da paralisação divide pais. O economista Fernando Camargo, de 47 anos, pai de um aluno do Alecrim e outro do Equipe, disse apoiar a nova data de paralisação. “Nessas duas escolas, os direitos já foram assegurados pela direção, mas agora nós, pais e professores, temos de lutar para garantir que o restante da categoria também os tenha.” Ele diz que os pais estão se mobilizando para que esses dois colégios se posicionem e cobre do sindicato patronal a retirada da proposta.
Já o engenheiro Robson Previatti, de 34 anos, diz ser contrário à forma como os professores estão se manifestando. Ele é pai de um aluno da escola Rícaro, em Pirituba, na zona norte, que não parou nesta quarta. “Se decidirem parar na próxima semana, eu vou cobrar da escola o ressarcimento pelo dia de aula perdido. Não acho justo que os prejudicados sejam os pais.”
Sindicato
“Acredito que nós tínhamos força para uma paralisação maior, mas entendo que as escolas pressionam e deixam os professores receosos. Acho que a nossa manifestação de hoje (quarta) foi importante para mostrar a nossa força”, diz o diretor do Sinpro Luiz Barbagli.
Segundo ele, o ato desta quarta foi importante para pressionar mesmo escolas que não vão rever benefícios a se posicionarem formalmente contrárias à proposta do sindical patronal. “Se elas de fato defendem a atual convenção, então que façam a sua parte.”
Benjamin Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieesp), disse que a decisão dos professores de fazer nova paralisação na terça-feira não altera a posição do sindicato. “Espero que tenham o mesmo êxito de hoje: não paralisaram nada, só algumas escolas de elite”, disse.
“Queremos reduzir uma semana do recesso escolar e oferecemos aumento real (de 3%) em troca disso.” O presidente ainda espera que a questão seja resolvida no Tribunal Regional do Trabalho — até agora, duas conciliações na Corte não tiveram avanço.