Ziraldo: da formação em direito à luta pela democracia com ‘O Pasquim’
Cartunista e escritor morreu aos 91 anos no Rio de Janeiro
Cartunista e escritor, Ziraldo morreu neste sábado, 6, aos 91 anos. Um dos maiores cartunistas e escritores da literatura infantil brasileira, Ziraldo Alves Pinto nasceu em 24 de outubro de 1932, na cidade mineira de Caratinga. Formado em direito, não exerceu a profissão, dedicando-se desde cedo a projetos artísticos e quadrinhos, universo habitado por seu mais famoso personagem, o Menino Maluquinho. Trabalhou como cartunista em jornais como Jornal do Brasil, O Cruzeiro e Folha de Minas.
Tornou-se conhecido na década de 1960, com o lançamento de A Turma do Pererê, a primeira revista em quadrinhos nacional feita por um único autor. Inspirada na figura folclórica do saci-pererê, a cria de Ziraldo lidera um grupo formado por vários animais, como uma onça, macaco, tatu e jabuti. Outros personagens do mundo rural, como um fazendeiro e um caçador, também fazem interagem com o protagonista.
Em 1969, juntou-se a outros jornalistas e cartunistas como Jaguar (Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe), Henfil (Henrique de Souza Filho) e Millôr Fernandes para fundar o periódico O Pasquim, em resposta ao Ato Institucional número 5 (AI-5), promulgado durante a ditadura militar brasileira. Bastante crítica à ditadura, quase a equipe inteira do tabloide foi presa, incluindo Ziraldo, que foi detido três vezes.
Em 2008, o cartunista foi considerado anistiado político e foi indenizado em mais de 1 milhão de reais pelo Estado por causa da repressão sofrida durante a ditadura. Jaguar, seu companheiro do Pasquim, também recebeu indenização. À época, os dois foram criticados publicamente e um abaixo-assinado contestando a indenização chegou a circular. Millôr, que trabalhava com a dupla no periódico, não pediu indenização e alfinetou a dupla: “Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?”.
Seu primeiro livro infantil, Flicts, veio também em 1969 e venceu o Prêmio Hans Christian Andersen daquele ano. Mas seu maior sucesso editorial na literatura infantil surgiu mais de uma década depois e lhe rendeu um prêmio Jabuti. O livro O Menino Maluquinho foi lançado em 1980 e foi tão bem recebido pelo público que seu personagem principal, um garoto que estava sempre usando camiseta amarela e uma panela fazendo as vezes de chapéu, ganhou vida também em histórias em quadrinhos, publicadas em revistas por quase vinte anos.
O Menino Maluquinho ainda foi adaptado para o cinema, em dois filmes, um de 1995, dirigido por Helvécio Ratton, e outro de 1998, dirigido por Fernando Meirelles e Fabrizia Pinto, filha de Ziraldo. O personagem estrelou também uma série para a televisão, produzida por Cao Hamburger e Anna Muylaert e exibida na TVE Brasil. A coleção do Menino Maluquinho conta com mais de dez títulos, incluindo uma história que é protagonizada por outra personagem de Ziraldo, Uma Professora Muito Maluquinha.
Ziraldo ainda lançou títulos como O Bichinho da Maçã, A Fábula das Três Cores, Menina das Estrelas, Jeremias, o Bom, Os Dez Amigos e Menina Nina. Vendeu mais de 8 milhões de exemplares só na sua casa atual, a Melhoramentos. Seu último livro foi Mônica e Menino Maluquinho na Montanha Mágica, lançado em parceria com Mauricio de Sousa na última Bienal do Livro de São Paulo, em agosto.
Ziraldo deixa a mulher, Marcia Martins da Silva, e três filhos, Fabrizia, Daniela Thomas e Antonio Pinto, do casamento com Vilma Gontijo.