Um ano depois de denunciar no tapete vermelho de Cannes um “golpe de Estado” no Brasil, o cineasta Kleber Mendonça, agora presidente do júri da Semana da Crítica do festival, brada pela renúncia do presidente Michel Temer, investigado por corrupção. “Há um ano, tínhamos certeza de que isso ia passar”, diz Mendonça, diretor de Aquarius, que competiu no evento em 2016. “Agora é mais difícil prever o que irá acontecer porque a situação é muito confusa, mas Temer deve sim renunciar. É como se o pneu de um carro estivesse furado e o motorista não quisesse trocar, e sim continuar dirigindo.”
No ano passado, o cineasta brasileiro, que disputava a Palma de Ouro com Aquarius, chamou a atenção da imprensa mundial ao falar em “golpe de Estado” no tapete vermelho de Cannes, junto à protagonista Sonia Braga e ao resto de sua equipe. No período, Dilma Rousseff acabava de ser afastada do poder. “Não vejo o que fizemos como um ato heroico, agimos como simples cidadãos”, diz. “Nos últimos 12 meses o governo de Temer tem desmoronado, enquanto não se provou nada contra Dilma e Lula, acusados de corrupção.”
Mendonça também defende uma união de cineastas brasileiros contra o governo Temer. Não seria a primeira. Em fevereiro do ano passado, diretores e profissionais da indústria cinematográfica brasileira apresentaram uma carta no Festival de Berlim pedindo o apoio de seus colegas internacionais contra o que consideravam ameaças do governo Temer à cultura.
O pernambucano também diz já estar trabalhando em sua próxima produção sobre uma pequena comunidade no país que descobre ter um talento especial para a violência. “Não sei se será político ou não, isso o espectador decidirá.”
(Com agência France-Presse)