‘Ultimato’ fecha um ciclo que começou com Capitão América e Homem de Ferro
Relação entre personagens moldou os conflitos da saga da Marvel de 2008 até hoje
Meses antes da estreia de Vingadores: Ultimato, que acontece nesta quinta-feira, 25, os fãs já sabiam que algumas despedidas importantes estavam a caminho. Entre elas, a do Capitão América/Steve Rogers, interpretado por Chris Evans: o ator publicou, em outubro, uma mensagem no Twitter contando que encerrava as filmagens do filme e dizendo que “interpretar esse papel pelos últimos oito anos foi uma honra”.
Foi uma dica bem clara, mas não inesperada. Isso porque, se a Saga do Infinito, como tem sido chamado o conjunto de 22 filmes da Marvel até aqui, de fato se encerra agora (com algo como um epílogo vindo aí em Homem-Aranha: Longe de Casa), como o estúdio deu a entender, é preciso mesmo fechar o ciclo. Encerrar a história de quem começou tudo, trabalhar questões mal resolvidas e passar o bastão para uma nova leva de super-heróis.
E, se há uma questão mal resolvida, é a relação entre Rogers e Homem de Ferro/Tony Stark (Robert Downey Jr.). Tudo começou com eles, afinal, e tudo tem girado em torno deles desde então. É verdade que a franquia já teve todo tipo de vilão e aventuras paralelas, mas seu tema mais constante sempre foi a relação entre um líder e outro. Não é à toa que um foi introduzido à série como “o primeiro Vingador”, enquanto o outro protagonizou aquele que foi, de fato, o primeiro filme da saga.
A história dos dois vem de longa data – longa mesmo, desde os anos 40, quando o pai de Tony, Howard Stark (interpretado por Dominic Cooper e John Slattery em diferentes fases da vida), participou do projeto secreto que transformou o jovem e franzino Rogers num super-herói de força sobre-humana. Também foi Howard quem deu ao Capitão seu primeiro escudo circular, que ele então usaria para combater forças nazistas e levaria consigo ao se sacrificar, derrubando um avião contendo o Tesseract (uma das Joias do Infinito) no Oceano Ártico.
Rogers, evidentemente, não morreu ali, mas ficou congelado por setenta anos e, ao despertar, acabou conhecendo o outro Stark (o pai morrera anos antes). O primeiro encontro entre os dois aconteceu em The Avengers: Os Vingadores, em 2012, quando ambos apareceram para combater a invasão de Loki (Tom Hiddleston) em Nova York. De um lado, estava um homem cuja natureza era abdicar da própria vida para ajudar os outros, que perdeu todos os entes queridos para o tempo em que passou hibernando e que saltou sobre uma bomba sem hesitar antes mesmo de ganhar poderes. Do outro, um homem que se autointitulava “gênio, bilionário, playboy e filantropo”, que tinha um prédio com seu nome estampado e fizera uma fortuna fabricando armas e financiando guerras. O atrito foi instantâneo, mas eles trabalharam juntos e venceram.
Ambos cresceram a partir de então, e é essa evolução que a Marvel tem mostrado ao longo de onze anos. Stark vem tentando provar que é capaz de lutar por “algo que não seja ele mesmo” e tem lidado com o conflito entre proteger o mundo e preservar a própria vida; enquanto Rogers custa a perceber o contrário – que não precisa assumir toda a responsabilidade pelos outros, e que também precisa de uma vida (além do “trabalho” de herói).
Rogers e Stark talvez nunca tenham chegado a se tornar grandes amigos, mas a relação passou da desconfiança ao respeito mútuo, antes de desmoronar em Capitão América: Guerra Civil (2016). Ali, cada um se posicionou de um lado em relação ao Tratado de Sokovia, um documento que propunha a regularização e fiscalização dos super-heróis pelo governo.
Stark ainda estava lidando com a própria consciência após Vingadores: Era de Ultron (2015), quando uma criação sua se voltou contra a humanidade e quase dizimou a população de uma cidade inteira. Ele entendeu que não poderia colocar o futuro em suas mãos e aceitou de bom grado a ideia de um controle superior.
Rogers, por outro lado, já tinha sido manipulado por um governo antes (sua criação foi usada como propaganda política durante a II Guerra) e agora desconfiava das autoridades, especialmente depois que a S.H.I.E.L.D. (instituição que criara a Iniciativa Vingadores) se revelou infiltrada pela Hydra (instituição rival, com ideais fascistas). Ele se recusou a assinar o acordo e se tornou um fugitivo, levando consigo metade dos Vingadores.
A briga entre os dois chegou ao ápice quando Stark descobriu que Bucky Barnes (Sebastian Stan), o melhor amigo de Rogers, fora o assassino de seus pais, sob controle mental da Hydra – e, para piorar, Rogers sabia. No fim, eles decidiram encerrar o conflito, mas manter distância.
Eles não se falaram durante todo o episódio de Vingadores: Guerra Infinita e agiram separadamente na luta pelo universo. Perderam, é claro, pois a mensagem da franquia é a de que é preciso unir forças, sempre. Quando se chega, enfim, ao Ultimato, Stark está à deriva no espaço, depois de ter tentado enfrentar Thanos com as próprias mãos e perdido seu pupilo Peter Parker (Tom Holland). Na Terra, Rogers também lida com o fracasso, tentando convencer a si mesmo e aos outros de que é preciso seguir em frente.
Agora, metade das criaturas vivas foi eliminada num estalar de dedos, boa parte dos Vingadores se perdeu no caminho e os dois ainda não resolveram suas diferenças. É mais do que hora de um encontro olho no olho, não é? É hora, enfim, de fazer as pazes, seguir em frente e, talvez, dizer adeus.