Logo no início de Felicidade Inegociável e Outras Rimas (HarperCollins), seu primeiro livro adulto após duas décadas escrevendo para adolescentes, você diz num verso que se sente “velha para mudar”. Sabe identificar de onde veio essa insegurança? As mulheres com mais de 40 anos são talhadas para se conformar com o que têm. A gente ouve a vida toda que temos de casar para sermos felizes; ter um filho para sermos completas; e ficar no mesmo emprego, pois empreender ou trocar de profissão não é para a nossa idade. Vivemos cercadas por travas que causam insegurança.
Como foi se livrar dessas travas? Tive medo, mas me joguei assim mesmo. Estou me arriscando em outro tipo de escrita e de público. Fiquei solteira depois dos 40 e encontrei meu marido atual aos 45. Estou aprendendo a lidar com a menopausa, que é um negócio dos infernos. Então, espero ser uma inspiração para mulheres como eu, que buscam coragem para recomeçar.
Na divulgação do livro, você publicou nas redes sociais uma foto de biquíni, com a data do lançamento nas nádegas. O que a motivou a fazer essa provocação? Quando lancei meu primeiro livro, na Bienal, aos 25 anos, precisei subir em uma cadeira para chamar atenção. Agora, usei a bunda como cadeira. O engajamento foi ótimo. Já sofri muito comentário etarista nas redes, me chamando de velha, dizendo que eu não deveria usar short curto, por exemplo. Aprendi a lidar com isso — e garanto que gosto mais de mim hoje do que aos 25.
Por quê? A maturidade me trouxe paz. Quando eu tinha 20, 30 anos, não gostava do meu corpo. Hoje, olho para trás e vejo que era uma insegurança boba e triste. Eu não troco a cabeça que tenho hoje pela bunda cheia de colágeno que eu tinha aos 20.
Seu livro também reflete sobre a hipersexualização das meninas em tempos de redes sociais. Não tem receio de que a postura atraia uma fama de “tia chata”? Quando somos novas, queremos ser mais velhas, parecer mais velhas. Eu também dançava músicas questionáveis na adolescência, mas era em casa, para o espelho, em festinha de amigas. Então me assusta ver meninas muito novas dançando canções misóginas nas redes sociais. Eu questiono: “Você está ouvindo a letra que está cantando?”. Isso me assusta, sim, e tenho alcance com esse público, então vou usar essa voz. Se me acharem a tia chata, problema de quem achar. É parte do meu papel ajudar jovens a amadurecerem bem e se amarem como são.
Publicado em VEJA de 29 de março de 2024, edição nº 2886