Nem tudo foram flores no primeiro contato entre Taís Araújo e Lázaro Ramos. Em 2004, quando ela protagonizava a novela Da Cor do Pecado e ele era um dos marmanjos travestidos de mulher no seriado Sexo Frágil, Lázaro resolveu paquerar a colega, que trabalhava no estúdio ao lado do seu no Projac, central de produção da Globo no Rio de Janeiro. “Um dia, vou me casar com essa moça”, disse a um colega (a bravata, é claro, não era séria — ainda). Taís deu a deixa ao votar em Lázaro como o negro mais lindo da TV numa enquete do Video Show. Ele enviou flores para agradecer. Ela retribuiu mandando-lhe um arranjo de girassóis. Mas aí entrou areia no flerte. “Eu tinha uma ‘ficante’, e acabei dando as flores a ela”, conta o ator. Por meio de amigas, Taís descobriu que seus girassóis haviam sido reciclados para cortejar outra. E lá foi a fera tirar satisfação: “Se eu soubesse que você ia repassar as minhas flores, não as teria mandado”. A impressão de Lázaro: “Eu a achei meio metida a besta”. Passado o estranhamento inicial, os dois se casariam, superariam uma crise no meio do relacionamento e teriam dois filhos, João Vicente, de 5 anos, e Maria Antônia, de 2. E há mais um fruto: a parceria produtiva na TV — como o casal negro emergente da série Mister Brau, da Globo — e no teatro — a bem-sucedida peça O Topo da Montanha, vista desde 2015 por mais de 70.000 pessoas. Reportagem de capa de VEJA desta semana mostra por que, quase treze anos depois da trombada floral, eles formam o casal mais inovador e influente do showbiz brasileiro.
Taís e Lázaro impõem-se como a nova tradução de um casal poderoso por um somatório feliz de peculiaridades. Eles são estrelas de magnitude equivalente. Naturalmente, a junção de duas forças assim resulta em uma supernova de luminosidade espantosa. O carisma vem acrescido de um fator de imensa simbologia: a pele negra. Para milhões de brasileiros, Taís e Lázaro servem como espelho: é o casal belo e talentoso que triunfou vindo de baixo. Os próprios não se cansam de enfatizar que falta muito para a superação da carga histórica de desigualdade e discriminação. Mas o fato é que eles atestam quanto o país mudou nas últimas décadas: a TV e a propaganda hoje reproduzem muito mais a diversidade brasileira. Para o público em geral, eles acenam com uma espécie de seguro contra a desesperança. Como bem definiu o ensaísta Eduardo Giannetti, a ideia de que o Brasil é uma democracia racial não se sustenta na realidade crua, mas é salutar que essa utopia seja perseguida como um ideal de país. O sucesso de Lázaro e Taís Araújo nos faz vislumbrar um Brasil de que se orgulhar: um lugar onde pessoas de qualquer classe ou cor de pele possam prosperar pelo talento e trabalho.
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