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Sonho impulsionou projeto de série documental sobre caso Daniella Perez

A diretora Tatiana Issa conta como conseguiu o aval da mãe da atriz, a autora Glória Perez, e explica motivos para não ouvir os assassinos

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 18 jul 2022, 07h44 - Publicado em 18 jul 2022, 07h30
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  • À época uma jovem atriz, Tatiana Issa, hoje com 48 anos, acompanhou de perto os primeiros momentos do drama vivido pela família e amigos de Daniella Perez, barbaramente assassinada em dezembro de 1992. Ela, que era próxima a uma prima dela e esteve com Raul Gazolla (marido de Daniella), nos estúdios da TV Globo, assim que a notícia veio à tona, conta que o crime marcou a sua vida de maneira profunda. Daniella foi morta a tesouradas pelo ator Guilherme de Pádua, seu colega de elenco na novela De Corpo e Alma, com a ajuda de sua então mulher, Paula Tomaz. Tatiana, que assina a direção da série documental Pacto Brutal sobre o assassinato da atriz, acalentou por anos o desejo de recontar a história que chocou o país – e ainda causa comoção ao ser lembrado – nas telas.

    Em dezembro de 1992, a atriz Daniella Perez, de 22 anos, filha da autora Glória Perez, foi morta a tesouradas pelo ator Guilherme de Pádua, com quem contracenava na novela De Corpo e Alma
    Em dezembro de 1992, a atriz Daniella Perez, de 22 anos, filha da autora Glória Perez, foi morta a tesouradas pelo ator Guilherme de Pádua, com quem contracenava na novela De Corpo e Alma (veja.com/VEJA)

    Há cerca de um ano e meio, Tatiana teve um sonho com Daniella Perez. Ainda no meio da noite, impressionada, mandou um e-mail para a novelista Glória Perez, mãe da atriz, contando sobre o ocorrido e perguntando: “Glória, eu não sei se você já fez, se está fazendo ou não quer fazer um documentário sobre o caso, o que também entendo. Mas, caso queira um dia falar sobre isso, me coloco à disposição”, escreveu. Naquela mesma madrugada, a autora respondeu dizendo que “já está na hora de contar essa história” e que confiava na sensibilidade e na seriedade da diretora, com quem já havia trabalhado. E que, após 30 anos do crime, abriria pela primeira vez seu baú com todo acervo sobre o caso.

    Diferentemente de muitos documentários, a série Pacto Brutal, que estreia nesta quinta-feira, 21, na HBO Max, não ouviu os assassinos de Daniella Perez – Paula Tomaz foi condenada a 18 anos e seis meses; Guilherme de Pádua, a 19 anos de prisão. Ambos estão em liberdade desde 1999. A cineasta sustenta que o trabalho não perdeu nada em qualidade ou relevância por isso. “Durante trinta anos eles falaram o que quiseram para inúmeros veículos, dando versões falsas e essas inverdades foram sendo perpetuadas”, afirma ela. “Se déssemos espaço para eles, estaríamos fazendo o mesmo que tanto criticamos. Houve um grande circo midiático em torno deste caso”, acrescenta. Tatiana disse que a própria Glória Perez se ressente, como fica evidente em seu depoimento no documentário, pelo fato do crime ter sido tratado como um “folhetim barato”. Isso não quer dizer, no entanto, que o documentário não trará imagens e falas antigas dos dois acusados do crime e de seus advogados.

    Daniela Perez com a mãe, Glória Perez: a autora guardou por três décadas tudo que saiu nos jornais, revistas e TV sobre o caso e disponibilizou para a produção da série
    Daniela Perez com a mãe, Glória Perez: a autora guardou por três décadas tudo que saiu nos jornais, revistas e TV sobre o caso e disponibilizou para a produção da série (Robson Bezerra/DEDOC/VEJA)
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    A cineasta, vencedora do Emmy Awards com a série Immersive.World e que ainda tem no currículo o premiado documentário Dzi Croquettes, explica ainda que a decisão de não ter novos depoimentos dos assassinos da atriz partiu dela e não de Glória Perez. “A única coisa que ela nos pediu foi que a gente colocasse a verdade e nos baseássemos nos autos do processo”, garante Tatiana. Assim que saíram as primeiras notícias sobre o documentário, ainda se ventilou que a Globo não quis investir na série sobre o assassinato de Daniella Perez por conta das supostas imposições da novelista em não dar qualquer espaço para os autores do crime. “Se a emissora já teve a intenção de fazer algo, não foi por agora. Tanto que nos cedeu todas as imagens de acervo que precisávamos e autorizou os depoimentos de contratados da casa”, conclui ela.

    Roberto Carlos e Tatiana Issa - além de contar com o depoimento do cantor, normalmente avesso a entrevistas, documentário traz relatos de advogados, promotores, amigos e familiares da atriz
    Roberto Carlos e Tatiana Issa – além de contar com o depoimento do cantor, normalmente avesso a entrevistas, documentário traz relatos de advogados, promotores, testemunhas, amigos e familiares da atriz (Instagram/Reprodução)

    Dividida em cinco capítulos de uma hora, a série Pacto Brutal reviverá a história do crime que impactou o país no início dos anos 1990 com a ajuda de cerca de 60 depoimentos. Além de um longo relato de Glória Perez – foram 18 horas de gravação –, participam do documentário testemunhas, advogados, promotores, testemunhas, familiares, amigos e vários nomes conhecidos. O projeto conta com relatos, só para citar alguns, de Fábio Assunção, Claudia Raia, Marieta Severo, do ex-marido de Daniella, Raul Gazolla, além de Roberto Carlos. Normalmente avesso a entrevistas, o cantor é amigo pessoal de Glória.

    Durante o processo de gravação da série, a novelista também disponibilizou para a produção vídeos da infância e de momentos em família da atriz e todo o material sobre o caso que reuniu ao longo de três décadas. O baú de documentos inclui vasto material que saiu em jornais e revistas, fitas com gravações de noticiários e todo o acervo do julgamento. “Esse caso merecia ser contato de forma séria e correta. Por mais que esteja completando 30 anos, tem temáticas muito atuais. Envolve sensacionalismo, feminicídio e culpabilização da vítima”, conclui Tatiana.

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