Simone Simons desafia o machismo que domina o heavy metal
Vocalista do grupo Epica, a cantora holandesa impõe respeito em território pouco feminino
A holandesa Simone Simons, 34 anos, tem 1,68 metro, cabelo ruivo sedoso, penetrantes olhos azuis, traços suaves e um figurino que parece saído da série Vikings. Mas a delicadeza está apenas na aparência e no registro de soprano. A vocalista do grupo de heavy metal Epica, que se apresenta no sábado 26 em São Paulo e no domingo 27 no Rio, é uma cantora de voz potente com o alcance de uma personagem das óperas de Wagner. No palco, sua postura impõe respeito em um território pouco feminino. Superar o machismo que grassa no ambiente do rock é outra de suas habilidades. “Nunca tolerei esse tipo de atitude, embora saiba que é bastante comum”, diz Simone, que já deparou com eventuais mãos-bobas em shows. “Gritei com o sujeito, e estive perto de dar um murro nele.”
O metal melódico, universo pelo qual Simone trafega, arrebanha multidões de fãs ao redor do mundo e é mais aberto a intérpretes graciosas do que outras vertentes do rock pesado. Uma de suas principais estrelas é a exótica finlandesa Tarja Turunen, do Nightwish, que influenciou Simone e a fez se interessar pelo heavy metal. Musicalmente, esse subgênero soa como uma versão pauleira dos temas kitsch do compositor Andrew Lloyd Webber com letras que parecem saídas de O Senhor dos Anéis: mistura que pede aqueles vocalises de feira mística. No caso de Simone, a doçura contrasta com os cantos guturais de Mark Jansen, seu companheiro de banda e ex-namorado (“Ele ficou mal, mas aceitou o fim em nome do grupo”). Para além da música, Simone tem um blog, o Smoonstyle, no qual dá dicas de maquiagem e faz confissões banais como “eu não combino com macacão”. A vaidade não maquia o talento da deusa de ferro. “A beleza vai embora, a voz permanece”, diz.
Publicado em VEJA de 30 de outubro de 2019, edição nº 2658