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Shirley Mallmann: “Modelo não tem prazo de validade”

A gaúcha de 45 anos venceu um tabu ao voltar às passarelas internacionais na maturidade

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h56 - Publicado em 30 set 2022, 06h00
Shirley Mallmann -
Shirley Mallmann – (Ricky Tompkins/.)

Quando comecei a trabalhar como modelo, nos anos 1990, eu ouvia constantemente a comparação entre minha carreira e a dos jogadores de futebol. Para ambas as profissões, a aposentadoria aconteceria em torno dos 30 anos. O conselho geral era “Faça seu pé-de-meia enquanto é tempo”. Resolvi contrariar esse senso comum. Recentemente, aos 45, voltei às passarelas da Semana de Moda de Nova York, após um hiato de dez anos. Ainda bem: o mundo mudou e a modelo não tem mais prazo de validade.

Esse afastamento se deu por uma combinação de fatores: fiquei mais velha e priorizei o cuidado dos meus filhos, que hoje têm 20 e 14 anos. Moramos em Long Island, Nova York, e a rotina de uma modelo, que passa semanas fora de casa em viagens, não batia com a de uma mãe de crianças pequenas. Passei a ficar mais seletiva e, logo, recebi menos convites. O mundo é cruel com o processo de amadurecimento das mulheres. Não faz muito tempo, postei uma foto no Instagram e uma pessoa comentou: “Nossa, como você envelheceu”. Senti um aperto no peito. Depois pensei que sim, eu envelheci. E tudo bem. Não dá para parar o tempo e não sou adepta de procedimentos invasivos ou de filtros de redes sociais para fingir uma idade que não tenho.

No auge da minha carreira, aos 23, engravidei do Axil, meu primeiro filho. Eu escondi a gravidez até quando deu. Estava muito feliz, mas, todos ao redor, quando ficaram sabendo, tratavam como se fosse uma tragédia e temiam que minha carreira acabasse ali. Meses depois do parto, porém, eu já estava trabalhando de novo. O mercado da moda já estava mudando naquela época. Nessa minha recente volta às passarelas da Semana de Moda de Nova York, pela grife Tibi, em setembro, notei que essas transformações se aceleraram radicalmente.

Há vinte anos, os bastidores de um desfile evidenciavam em cada canto seu grupinho definido: de um lado, as modelos, altas e magras; em outro canto, os maquiadores; em outro os stylists; e assim por diante. Os estereótipos eram tão marcados que era fácil reconhecer quem era de qual grupo. Dessa vez, quando cheguei ao local, a recepcionista me perguntou o que eu faria ali: “Você é modelo, maquiadora, fotógrafa?”. Eu disse: “Modelo” — e ela me mostrou minha área. Atrás de mim, uma mulher linda, mas fora dos padrões de corpo antes típicos para uma passarela, também era modelo, e desfilou comigo. No camarim, a mudança era visível. A meu lado havia mulheres de corpos, cores e alturas diferentes. Algumas delas mais novas, outras mais velhas do que eu, além da presença de homens e trans. A diversidade estava por todos os lados. Acho que essa mudança aconteceu graças à pressão dos consumidores. Todos querem se ver retratados em revistas, sites, passarelas. Eu aprendi que ser modelo é mais que a beleza exterior, tem a ver com ser um modelo de atitude, de respeito, e essa nova fase da moda reflete isso.

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Comecei a trabalhar na adolescência. Aos 19 anos fiz minha primeira viagem internacional para os Estados Unidos, nem falava inglês. Lembro-me de que uma vez precisei passar pelo crivo da Anna Wintour (a temida editora-chefe da Vogue). Quando entrei na sala e ela viu uma mulher loira de olhos azuis, ficou chocada e perguntou: “Você é mesmo brasileira?”. Essa reação eu ouvi por muitos anos. A variedade de tipos físicos de brasileiros era desconhecida lá fora até então. Venho de uma família de origem alemã, em Santa Clara do Sul, uma cidade pequena no interior gaúcho. Lá eu trabalhava como costureira numa fábrica de sapatos antes de ser descoberta. Ao olhar para trás, tenho orgulho de quem eu sou e da minha história — e, por enquanto, não tenho planos de me aposentar.

Shirley Mallmann em depoimento dado a Raquel Carneiro

Publicado em VEJA de 5 de outubro de 2022, edição nº 2809

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