Em agosto de 2016, Selena Gomez cancelou a turnê do álbum Revival e se internou numa clínica no estado do Tennessee, no sul dos Estados Unidos. Diagnosticada com lúpus, a atriz e cantora enfrentava não apenas as dores físicas da doença, mas crises severas de ansiedade, ataques de pânico e uma depressão profunda ao decidir que deixar os holofotes por três meses era a escolha certa para se recuperar — e salvar sua vida. A batalha da estrela em busca da cura para seus males conduz o tocante documentário Selena Gomez: Minha Mente e Eu, já disponível na Apple TV+. Dirigida por Alek Keshishian, cineasta responsável pelo antológico Na Cama com Madonna (1991), a produção expõe sem anestesia as mazelas físicas e emocionais do período mais conturbado e assustador da vida da artista.
Gravado nos últimos seis anos, o filme é resultado da parceria de longa data de Selena e Keshishian, que se conheceram em 2015 na produção do clipe do hit Hands to Myself. “Não vejo isso como um trabalho. Desenvolvo amizades profundas com os artistas. É essa confiança que você vê nas telas”, disse o diretor a VEJA. A relação estreita deu a ele acesso a mais de 200 horas de gravação e quinze anos de diários da cantora, janelas essenciais para retratar acontecimentos da vida de Selena que colocariam medo em qualquer um. Basta lembrar que, em 2017, pouco depois de se internar para tratar das questões mentais, ela se submeteu a um transplante de rim por causa de complicações do lúpus, ficando entre a vida e a morte. O procedimento em si não é mostrado no vídeo, mas o espectador acompanha de perto uma recidiva da doença, que faz a jovem passar por tratamentos dolorosos para se recuperar. Também nesse período, a cantora enfrentou um esgotamento emocional que a levou à reabilitação, com crises de psicose e a descoberta da bipolaridade. Tudo isso enquanto lidava com o término definitivo com o namorado Justin Bieber, em 2018 — os dois mantinham um relacionamento de idas e vindas desde a adolescência. “Sou grata por estar viva”, confessa ela, hoje aos 30 anos.
Lançada à fama ainda criança, no programa Barney e Seus Amigos, Selena compõe o hall de estrelas infantis que cresceram diante dos olhos do público e lidam com o preço da exposição. Recentemente, cantoras como Taylor Swift e Demi Lovato, que também começaram cedo, expuseram o lado feio do sucesso em documentários sobre as inseguranças e transtornos por trás da vida glamorosa. Com milhões de seguidores no Instagram, elas abrem o jogo sobre suas fragilidades diante das câmeras. “Muitos jovens são famosos na internet, mas têm vidas sombrias e cheias de tristeza. Selena mostra a eles como sair disso”, reflete o diretor.
Além de revelar seu sofrimento, a produção é um instrumento de Selena para mostrar aos fãs que há, sim, luz no fim do túnel. Ela vocaliza seu ativismo em prol da saúde mental e revela como achou um propósito em ações de voluntariado. Uma das provas de sua volta por cima é a atuação como produtora e uma das protagonistas da premiada série cômica Only Murders in the Building, dividindo a cena com as feras Steve Martin e Martin Short. A estrela viu a cara do abismo — e sobreviveu para contar a história.
Publicado em VEJA de 9 de novembro de 2022, edição nº 2814
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