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Rolling Stones chegam aos 80 com disco excepcional – e de olho no futuro

Feito com garra, foco e frescor, o álbum contém os marcos característicos da banda

Por José Emilio Rondeau
Atualizado em 20 out 2023, 18h46 - Publicado em 20 out 2023, 06h00

Quebre e agarre. Smash and grab, em inglês. Um furto rápido, uma ação-­re­lâm­pa­go, alavancada pelo elemento-surpresa. Era esse o título original de Hackney Dia­monds — o primeiro álbum de músicas inéditas dos Rolling Stones em quase duas décadas e o 24º de sua discografia, lançado na sexta-feira 20 — e já dava uma pista para o sentimento de urgência do disco concebido, ensaiado, gravado e concluído a toque de caixa, de dezembro de 2022 a fevereiro de 2023, na Jamaica e em estúdios espalhados por Estados Unidos, Inglaterra e Bahamas. E anunciado em agosto passado, quando ninguém esperava por ele.

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Sem dar ao mundo novidades desde A Bigger Bang, editado em 2005 (Blue & Lonesome, de 2016, trazia versões de clássicos dos blues que inspiraram a formação da banda), período em que se ocuparam de sucessivas turnês, Mick Jagger, Keith Richards e Ronnie Wood — dois fundadores e o remanescente da formação que vinha trabalhando desde 1975 — pre­pararam Hackney Diamonds com prazo de início e término estabelecidos, quando Mick decidiu que era hora de lançar algo novo. Os Stones estavam sendo “preguiçosos”, admitiu ele, e o tempo, ao contrário do que pregava uma de suas gravações mais famosas da década de 60, já não estava mais do seu lado.

FEITIÇO DO TEMPO - Os primórdios dos Stones: já são 61 anos de estrada
FEITIÇO DO TEMPO - Os primórdios dos Stones: já são 61 anos de estrada (Michael Ochs Archives/Getty Images)

O baterista Charlie Watts tinha 80 anos quando morreu, em 2021 — Mick e Keith estão na mesma faixa (Jagger chegou lá em julho e Ri­chards faz aniversário em dezembro), enquanto Ronnie soma 76. A mortalidade para os Stones hoje, portanto, é algo definitivamente palpável. Há muito mais estrada para trás do que pela frente. No entanto, aqui eles desafiam o tempo e a própria idade — e demonstram fome de jogo. Hackney Diamonds inaugura o que o grupo anuncia como sendo “uma nova era dos Stones”, com Steve Jordan agora ocupando a bateria — uma sucessão definida pelo próprio Charlie Watts, quando já estava doente.

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Muito do novo disco deve-se a outro elemento externo: Andrew Watt, nova-iorquino de 33 anos, requisitado produtor de artistas como Pearl Jam, Miley Cyrus, Post Malone e Iggy Pop, arregimentado por Jagger para ajudar a dar o que Richards definiu como um “reset” nos Stones. Andrew (que toca baixo em várias faixas) respeitou e valorizou as características vintage do grupo, mas trouxe-o para a primeira linha do século XXI de um modo que pode aproximar os Stones das novas gerações sem alienar os velhos fãs.

HOMENAGEM - O último show de Watts (à dir.), em 2019: lidando com a finitude
HOMENAGEM - O último show de Watts (à dir.), em 2019: lidando com a finitude (Rich Fury/Getty Images)

Hackney Diamonds é um disco enxuto, coeso, musculoso. Feito com garra, foco e frescor. Ele contém os marcos característicos de um disco dos Stones: canções explosivas, com riffs na cara (Angry, o primeiro single, que abre o disco), baladas plangentes (Depending On You, em que a guitarra slide de Ronnie se une harmonicamente ao órgão Hammond de Benmont Tench), incursões country (a lânguida Dreamy Skies), soul e gospel à enésima potência (Sweet Sounds of Heaven, o apoteótico ponto alto do álbum, compartilhado com Lady Gaga e Stevie Wonder), as guitarras de Keith e Wood se entremeando, Jagger cantando com estilo, marra e potência. Mas é bem mais que isso.

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Em vez de ser um disco reflexivo sobre a maturidade e a inevitabilidade da finitude feito por veteranos — vide os brilhantes álbuns invernais de Paul Simon (Seven Psalms) e David Bowie (Blackstar) —, Hackney Diamonds é um ato de reafirmação de propósito, inquieto, determinado a não ser um fac-símile pálido de glórias passadas, disposto a apostar em sua relevância num mundo tão diferente daquele em que os Stones surgiram. E é um disco superpop, empolgante, que se comunica com o lado mais radiofônico do grupo.

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PARCERIAS - Wood e Jagger com Lady Gaga e o produtor Watt: frescor musical
PARCERIAS - Wood e Jagger com Lady Gaga e o produtor Watt: frescor musical (@therollingstones.zonee/Instagram)

A passagem do tempo vem à tona, sim — como em Tell Me Straight (“será que meu futuro está todo no passado?”), cantada por Keith Richards —, mas o foco, no geral, é na frente, não lá atrás. Afinal, Jagger propõe, no clímax de Sweet Sounds of Heaven: “Vamos deixar os velhos acreditarem que são jovens”. Charlie Watts comparece em duas faixas gravadas em 2019, dois polos opostos do disco: a dançante Mess It Up e o rock rasgado Live By The Sword, em que toca também o baixista Bill Wyman (que deixou os Stones em 1993), formando a locomotiva original da banda uma última vez, com Elton John arrematando ao piano. E a lista de convidados é completa com Paul McCartney num contrabaixo exageradamente distorcido para pontuar a suja e moleque Bite My Head Off, divertida brincadeira punk.

O disco termina do modo mais acertado possível. Jagger e Richards, munidos só de voz, gaita e violão (do mesmo modelo usado por Robert John­son, mítico patrono do blues), mergulham em Rollin’ Sto­ne, composição ancestral de Muddy Waters cujo título batizou o grupo. É um momento primal que encerra um ciclo de música e de vida com emoção. Ainda assim, Hackney Diamonds não deve ser um capítulo final na saga da autoproclamada maior banda de rock do mundo. Há a possibilidade real de uma turnê a partir de 2024 — que poderia trazê-­los ao Brasil — e de nova leva de inéditas recentes sair nos próximos anos. “Já temos quase três quartos do próximo disco gravados”, disse Jagger em entrevista. “Não creio que esse seja o último álbum dos Rolling Stones.” Com 61 anos de estrada, os Stones estão de olho no futuro.

Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2023, edição nº 2864

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