Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Restaurações bizarras destroem quadros e esculturas

Erros evidenciam o risco de colocar em mãos inábeis obras de arte de valor inestimável

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 14h10 - Publicado em 27 nov 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O Davi, de Michelangelo, a Mona Lisa, de Da Vinci, a Vênus, de Botticelli. O que essas obras têm em comum, além de prestígio e indescritível beleza? A idade. Todas elas foram feitas há mais de 500 anos. Ainda assim, o visitante que vai ao Museu do Louvre ou à cidade de Florença para vê-las de perto não se decepciona com seu estado, sempre perfeito, pois elas foram devidamente cuidadas e, quando necessário, restauradas. Restauração é um trabalho árduo e demorado. Umidade, temperatura, luz e insetos são apenas algumas das muitas causas de degradação. E cada tipo de plataforma requer uma abordagem diferente. Assim, para restaurar uma pintura a óleo, o especialista pode retirar todo o verniz e passar uma camada nova, restabelecendo o brilho original. Já em murais, é preciso injetar resina com sílica e argamassa de cal. Quanto a pinturas à base de aquarela ou guache, lava-se a obra para retirar as manchas, além de remendar rasgos. “É um processo bem complexo e específico”, diz João Rossi, restaurador do Museu de Arte Sacra, em São Paulo. “A restauração deve ser muito bem pensada porque o resultado pode ser irreversível.”

    Mesmo com técnicas desenvolvidas há séculos, foram observados recentemente diversos casos malsucedidos, para dizer o mínimo. A partir de junho deste ano, especialistas espanhóis passaram a exigir mais rigidez nas leis que cercam a profissão depois do resultado catastrófico da restauração de uma obra do pintor barroco Bartolomé Esteban Murillo. Não adiantou: na cidade de Palência, o ornamento de uma moça sorridente, datado de 1923, acabou deformado por um artista inábil. A escultura de feições singelas tornou-se um rosto grosseiro que, segundo alguns, lembra a imagem do presidente americano Donald Trump. A Espanha, aliás, tem sido pródiga em gerar desastres na área. O exemplo mais emblemático ocorreu em 2012, quando uma pintura do início do século XX de Jesus Cristo foi estragada em uma tosca tentativa de restauração. O caso ganhou notoriedade, exatamente como o atual, de um exemplo ridículo (e trágico) desse tipo de trabalho.

    arte
    AMADORISMO - Restauração de pintura de Jesus Cristo do século XX: exemplo de trabalho desastroso – (./Reprodução)

    A questão envolve, evidentemente, o nível de quem realiza tão sofisticada tarefa. “A popularização da profissão levou a um aumento de tratamentos no estilo ‘faça você mesmo’”, disse a VEJA a especialista Debra Norris, professora da Universidade de Delaware, nos EUA. Compartilha da mesma opinião o ex-presidente da associação espanhola de restauradores Fernando Carrera. Ele afirma que, da mesma forma que não se entrega um edifício a quem não é engenheiro, não se pode delegar a amadores a tarefa de restaurar obras de arte. “Preferimos nem mesmo usar o termo ‘restauração’ para falar desse tipo de intervenção”, reforça o atual presidente da associação, Francisco Jiménez.

    Continua após a publicidade

    Felizmente, existem formas seguras de prevenir os acidentes. De um lado, é preciso regulamentar a atividade dos restauradores e fortalecer as leis de proteção à herança cultural. Do outro, o emprego de tecnologia — cada vez mais precisa — pode ajudar no controle das intervenções. O problema é que nem todos os governos e instituições estão dispostos a pagar milhares de dólares por um trabalho qualificado. É uma pena. Em tempos em que existem possibilidades competentes de manutenção da arte, não faz sentido arriscar danos em obras inestimáveis. O mundo, que fica mais belo com essas obras, não pode se dar ao luxo de trocar o sublime pelo ridículo.

    Publicado em VEJA de 2 de dezembro de 2020, edição nº 2715

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.