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Reinvenção do mesmo

No remake de 'Nasce uma Estrela', Lady Gaga faz ares de cantora country e de diva à la Barbra Streisand — só para se converter, afinal, em Lady Gaga

Por Jerônimo Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 out 2018, 07h00 - Publicado em 12 out 2018, 07h00

Lady Gaga despontou como uma Madonna meio esquisitinha. Sua música, sua atitude, seus clipes — tudo parecia referenciar e reverenciar, ainda que com uma nota de ironia pós-moderna, o trabalho de sua grande antecessora na arte da provocação pop. No primeiro filme em que Stefani Joanne Angelina Germanotta (o nome civil da cantora) assume o papel principal, vemos uma artista de outra extração. Virtuosismo vocal não era exatamente o forte de Madonna, mas nas canções que embalam a nova versão de Nasce uma Estrela (Estados Unidos, 2018), já em cartaz no país, Lady Gaga faz questão de mostrar o alcance de seus sustenidos. A cultura gay em que tanto a artista de Poker Face quanto a cantora de Material Girl vivem imersas aparece de raspão no início do filme, quando Ally, a estrela ascendente interpretada por Lady Gaga, é a única pessoa com dois cromossomos X a pisar no palco em um boteco de drag queens. Mas em seguida Ally é descoberta pelo astro Jackson Maine (vivido por Bradley Cooper, que também faz sua estreia como diretor), um astro alcoólatra e já meio caído que carrega sua protegida para o mais hétero dos universos musicais, o country rock. A outra Lady Gaga que se vê na tela, mais próxima de Barbra Streisand (estrela da versão de 1976) que de Madonna, vem entusiasmando a crítica americana, e já se fala em Oscar tanto para a atriz quanto para a canção maior do filme, Shallow.

Antes de Barbra Streisand, o mesmo papel já havia sido de Judy Garland (1954) e Janet Gaynor (1937). O projeto de mais um remake do melodrama sobre a cantora que cresce sob as asas de um amante famoso e acaba por supe­rá-lo vinha sendo discutido fazia anos nos estúdios Warner. Beyoncé chegou a ser cogitada, mas desistiu. A escolhida de fato faz bonito: Lady Gaga chora e canta com convicção. Mas o deslumbre com o filme é desproporcional. Há um desequilíbrio grave entre certo realismo cru, reforçado por cenas filmadas em steadycam, e o conto de fadas da menina meio desajeitada que se converte em ídolo pop. O lento, excruciante declínio de Jackson Maine, que, no circuito típico da drogadição, passa meses longe do uísque e da cocaína só para na primeira crise recair nos velhos hábitos, parece mais crível do que a súbita conversão de Ally em uma espécie de, bem, Lady Gaga.

Se os tropeços narrativos não comprometem inteiramente o filme, é só porque este é um enredo convencionalíssimo, testado três vezes antes. Madonna, quando quis ser diva em Evita, correu um risco um tanto maior. No fim das contas, Lady Gaga só dá a impressão de que ousa sair de sua zona de conforto. Sim, lá está ela vivendo uma trabalhadora suburbana, cansada e sem maquiagem, ou com o figurino retrô e meio desleixado de cantora country. Mas a imagem que sintetiza o filme é bem outra: Ally de cabelos pintados e esvoaçantes, com olhar entre blasé e sexy, no imenso outdoor promocional de seu primeiro disco.

Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604

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