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Raphael Montes é o nome da hora da literatura criminal brasileira

Aos 29 anos, o carioca tem cinco livros cultuados e vem aí com uma série na Netflix e dois longas

Por Eduardo F. Filho Atualizado em 28 fev 2020, 10h20 - Publicado em 28 fev 2020, 06h00

Famosa por thrillers psicológicos como Pacto Sinistro e O Talentoso Ripley, a escritora americana Patricia Highsmith (1921-1995) dizia que todo ser humano é capaz de matar. Fã da romancista e expoente brasileiro do gênero consagrado por ela, o carioca Raphael Montes vai um pouco além: afirma que todas as pessoas têm o mal dentro de si. Quando esse lado negro floresce, divaga Montes, seria capaz de impelir até pessoas insuspeitas a atos brutais. “É como uma corda bamba. Nosso corpo uma hora pende para o lado do bem; noutra, para o lado do mal”, teoriza. O caso do próprio Montes exemplifica sua teoria peculiar. Enquanto escreve, seu corpo não consegue manter o equilíbrio: ele se enverga todo para o lado das trevas. E essa tática faz sucesso. Os cinco livros do rapaz — Suicidas (2012), Dias Perfeitos (2014), O Vilarejo (2015), Jantar Secreto (2016) e Uma Mulher no Escuro (2019) — já foram lançados em 24 países. No Brasil, venderam mais de 100 000 exemplares, segundo a editora Companhia das Letras.

Aos 29 anos, Montes alcançou uma condição invejada por veteranos: é um autor cultuado por outros autores — e conta com fãs no cinema e na TV, do diretor Cacá Diegues à noveleira Gloria Perez. Daí à conquista do prestígio como roteirista foi um pulo. “Ele tem uma consciência da estrutura dramática moderna maior que a de qualquer outro roteirista brasileiro”, elogia Cacá. A Netflix prepara a série Bom Dia, Verônica, inspirada no livro homônimo escrito por Montes e pela também escritora e criminologista Ilana Casoy. Ainda sem data de lançamento, o programa traz o rapaz como roteirista-chefe e produtor executivo. De novo ao lado de Ilana, ele assina os projetos de dois filmes que vão recontar os crimes de Suzane von Richthofen — um pela versão dela, o outro pela do namorado, Daniel Cravinhos. A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou os Meus Pais estreiam em 2 de abril.

Montes não decepciona ao explorar o bê-á-bá da literatura criminal: sabe tecer cenas de violência e bolar assassinatos engenhosos. Mas seu trunfo é temperar esses elementos clássicos com temáticas atuais: o suicídio entre os jovens, a violência contra as mulheres, os amores obsessivos e a psicopatia. Seus personagens são cidadãos comuns do Rio de Janeiro que lidam com problemas reais como o desemprego e os boletos para pagar, enquanto se envolvem em situações macabras — Jantar Secreto, por exemplo, fala de canibalismo. “Penso nos meus livros como uma montanha-russa. As pessoas abrem a obra e lá estou eu no carrinho com a mão estendida, chamando o leitor: ‘Vem, senta aqui, vamos brincar!’ ”, diz.

A precocidade chama atenção. Montes é filho único de uma advo­gada e de um engenheiro de classe média alta que vivem em Copacabana — desde que começou a escrever, aos 16 anos, o bairro carioca é cenário de suas tramas. Hiperativo, ele se equilibra entre o vôlei na praia e as maratonas de doze horas diárias na frente do computador. “As pessoas veem sua foto no lançamento dos livros, mas não veem você de pijama escrevendo, com a coluna dolorida”, afirma. “O Rapha é um garoto dentro de uma alma de velho”, comenta a parceira Ilana.

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De perto, a mente macabra quebra expectativas: que os fãs não esperem um cara sombrio, de roupas escuras e olhos com delineador preto. Montes se define como alguém “solar”: gosta de cores claras e se cobre de glitter no Carnaval. A ironia maior: ele tem pavor a crimes reais e detesta sangue. A repulsa veio forte na elaboração do roteiro dos filmes de Suzane. A parceira Ilana chegou a dar um ultimato: “Você vai ter de ver as fotos dos pais dela assassinados para escrever sobre isso”. Montes diz que viu “por cima”, e nunca mais se aproximou das imagens. O autor matador, quem diria, é mortinho de medo.

Publicado em VEJA de 4 de março de 2020, edição nº 2676

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